sábado, 5 de junho de 2010

SAUDADES DE UM TEMPO QUE NUNCA EXISTIU



 “Quando eu era menino, falava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” (I Coríntios 13.11).

“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar” (Eclesiastes 3.1 e 4).

A Bíblia nos ensina que a vida é veloz, rápida, frágil, vulnerável. Nas palavras do salmista é como a relva que brota ao amanhecer, germina e brota pela manhã, mas, à tarde, murcha e seca. Com certeza, nós podemos concordar com essa frase, pois vivenciamos isso na própria pele. Meu Deus! Eu fico a pensar: como a vida tem passado rápido – ontem estava jogando bola na rua, e hoje estou aqui sentando à frente do meu computador pensando em escrever algo que seja abençoador para os meus irmãos. Ontem estava na escola assistindo aula e entendendo pouca coisa, hoje, sou professor e continuo entendendo pouca coisa. Ontem poucas responsabilidades, hoje, excesso de responsabilidades. É verdade, temos de admitir, a vida caminha veloz.

Às vezes, por ledo engano, ou por descuido, ou por tristeza ou decepção no aqui e agora da vida, alguns olham para trás, e têm a impressão, que lá naquele tempo eram felizes e sabiam. Era lá que as coisas aconteciam para o bem. Era lá. E são, assim, levados pelos caminhos da memória a olhar para vida com nostalgia. Saudades. E a impressão que lá naquele lugar, naquele tempo, tudo estava no devido lugar, tudo era feito da melhor maneira. Pensam consigo mesmo: naquele tempo os jovens respeitavam os mais velhos, os crentes levavam sua fé com mais seriedade, o pastor era mais rígido, mais moralizador, os crentes estudavam mais a Bíblia. No templo, o silêncio era quase absoluto. Nada de celular tocando aqui e ali. E as músicas eram só do Cantor Cristão. Aliás, um colega meu, uns dias atrás, tirando um sarro nos crentes de hoje, disse que o único cristão que restou na igreja foi o cantor, o Cantor Cristão. Infelizmente alguns pensam isso mesmo. Contudo, afirmo com convicção, estão enganados. Foram persuadidos por sua própria memória.

É preciso admitir que a memória é seletiva. Ela não guarda todos os fatos, acontecimentos, todas as sensações vividas e experimentadas. Não. Nada disso. Ela seleciona os fatos vividos. E por isso temos a sensação que lá no passado que a vida era boa, lá na infância, ou na juventude. Nada de mal em recordar as coisas do passado. Alguns até dizem que recordar é viver. Todavia, a vida em todos os momentos é dialética. Ela coaduna coisas boas e ruins em todas as etapas. Ninguém é 100% alegre ou 100% triste durante a jornada da existência. Existem, sim, alegrias que se misturam com tristezas, sorrisos que se entrelaçam com lágrimas, pulos de alegria com raiva e decepção. Sonhos realizados com frustrações, e assim a vida vai percorrendo o seu caminho. Se você pensar com sinceridade, entenderá e aceitará que a vida lá trás não era quase uma perfeição, era, simplesmente, vida. Vida na normalidade e na naturalidade. Vida que traz junto de si coisas boas e ruins em todos os tempos e ponto.

Creio eu que um dos grandes segredos para se viver bem, ou seja, em saber lidar com o passado de uma forma sincera e realista, em saber desfrutar do presente e olhar esperançosamente para o futuro, está na palavra contentamento. Tal palavra deriva-se do latim contentu (contido) e sugere a ideia de conteúdo. Assim sendo, viver com contentamento é ser capaz de usufruir o conteúdo da realidade na qual se está inserido. Por Deus ser graça pura e benevolência infinita, existe a possibilidade, em qualquer circunstância, do contentamento acontecer.

É preciso concordar com os autores bíblicos quando afirmam que há tempo para tudo, há tempo de ser criança e viver a infantilidade, e há tempo de crescer e deixar as coisas de criança. Há tempo de chorar e de rir, há tempo de prantear e há tempo de celebrar, festejar, dançar. A grande questão é que devemos aprender a aproveitar os momentos, a expressão carpe diem mostra isso e surge como convite: aproveite o momento! Portanto, não fique amargurado por estar envelhecendo, afinal, só envelhece quem está vivo. Não fique olhando para o passado, achando que a felicidade só existia lá. Não. Definitivamente não! Convido-o a buscar sabedoria em Deus para poder viver bem, e assim, aproveitar, curtir, e encontrar boas razões para celebrar o momento presente com confiança Naquele que é o inventor da vida.  Que Deus, Aquele que afeta a vida em todos os instantes, possa abrir os nossos olhos a fim de que possamos enxergar a Vida que brota da Sua graça. Amém.
                                                                                                                        Pastor Laurencie