sábado, 19 de março de 2011

A lógica tola dos “amigos da onça” de Jó


 Vós sois todos médicos que não servem para nada. Ah! Antes ficásseis totalmente calados, pois assim passaríeis por sábios” (Jó 13. 4 e 5)

            Sempre que algum tipo de sofrimento acontece, surgem os teólogos, filósofos, religiosos de todas as espécies para dar explicações. Mas o que a experiência mostra é que as explicações para o sofrimento e para dor, em geral, acabam trazendo mais dor e sofrimento do que consolo. O patriarca Jó que o diga. Na verdade, o verso acima citado, foi uma fala de Jó para seus “amigos da onça”: Elifaz, Zofar e Bildade. Quando eles souberam da calamidade acontecida a Jó, solidariamente logo se dispuseram a estar com ele, rasgar as vestes e lamentar junto dele por tamanha dor. Até aí tudo bem. O problema é que eles começaram a falar, a dar explicações, fazer suposições e imposições a Jó etc, infelizmente, abriram a boca, e disseram uma bobagem atrás da outra. Como disse um músico brasileiro já falecido: “quem fala demais, não tem nada a dizer”. Essa citação cai que nem uma luva sobre as cabeças dos amigos de Jó. Quem dera Elifaz, Zofar e Bildade conhecessem a arte de ficar calados, pelo menos teriam passado por sábios.
            Os amigos de Jó passam o tempo todo o acusando de algum tipo de pecado, visto que nas suas mentes, o sofrimento era consequência de desobediência a Deus, ou seja, pecado. Da argumentação desses homens, surge uma teologia que pode ser nomeada de várias maneiras, tipo: teologia da retribuição, teologia moral de causa e efeito, enfim, essa é a teologia dos “amigos da onça” e falastrões de Jó. Essa teologia parte do pressuposto de que coisas boas acontecem somente com pessoas boas, e coisas ruins acontecem só com pessoas ruins. Por isso que argumentaram incessantemente que Jó havia feito alguma coisa ruim para estar sofrendo. Dentro dessa lógica tola quando alguém sofre, é porque está pagando por algum mal que cometeu,  e isso, nada mais é do que conceito de carma dos espíritas kardecistas.
            O livro de Jó nos mostra de maneira muito clara que ele era íntegro e correto, e apesar disso, estava passando por um tempo de sofrimento terrível. Ou seja, o livro de Jó desconstrói a teologia da retribuição, e isso significa que o mal que acontece no mundo nem sempre é para retribuir a outro mal feito. O livro de Jó derruba o conceito kardecista de carma. Assim afirmo: coisas ruins acontecem com pessoas boas e com pessoas ruins, e coisas boas acontecem com pessoas boas e pessoas ruins, afinal, Deus derrama chuva sobre justos e injustos, e a vida, por mais que não aceitemos, é dialética.
            Já faz mais de 5000 anos que o livro de Jó foi escrito, e para nossa tristeza, as vozes dos “amigos da onça” de Jó ainda ecoam por aí. Refiro-me a calamidade acontecida no Japão. Alguns pastores e líderes religiosos têm usado sua tribuna para dizer que o terremoto e tsunami acontecidos no Japão são frutos do pecado daquele povo, é a velha teologia carmica da retribuição querendo ressuscitar. Confesso que não aguento mais ouvir tantas bobagens, meu anseio é que tais homens fiquem calados, pois biblicamente falando, não têm nada a dizer. Suas palavras não provêm da graça e estão entorpecidas de julgamento e dor. Nas palavras de Jó são “médicos que não servem para nada”. E, portanto, suas palavras e seus ensinamentos devem ser de todo desprezados.
            Diante do sofrimento, não fique procurando explicações, pois certamente obterá respostas incompletas e até mesmo equivocadas, que gerarão mais sofrimento. Ao invés disso, procure calar a sua alma e suas inquietações diante do Senhor, e saiba que Ele não desprezará um coração quebrantado e contrito (Salmo 51.17). Na hora da dor o melhor a fazer é aprender a arte de ficar calado. Se for pra falar, que seja para pedir por misericórdia e consolo.
            Se Deus não fosse o Deus da Graça só nos restaria esperar pela desgraça, mas como Ele é verdadeiramente o Deus de toda a Graça, e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, só nos resta caminhar por essa vida sofredora com a expectativa de que um dia tudo se fará novo e todas as lágrimas serão enxugadas (Apocalipse 21.4 e 5). Enquanto isso, gememos de dor e nos calamos diante do sofrimento incompreensível às nossas mentes finitas, todavia, verdadeiramente, nossos gemidos de dor são também gemidos graciosos de esperança (Romanos 8.22). Por isso tomamos a decisão de nunca nos deixar vencer pelo desespero, e tomamos a decisão de nunca julgar o sofrimento alheio. Minha oração e meu desejo é que os seguidores dos “amigos da onça” de Jó se calem para sempre! Mas mesmo que eles não se calem, tomo a decisão de nunca mais lhes dar meu tempo e minha atenção! Amém!
                                                                                                     Pr. Laurencie