terça-feira, 15 de novembro de 2011

Quando os sonhos de Deus entram na gente - parte 2


“Tu me farás conhecer o caminho da vida; na tua presença há plenitude de alegria; à tua direita há eterno prazer” (Salmo 16.11)

“Fizeste-nos para Ti, e nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Ti!” (Agostinho de Hipona)

“Deus é mais glorificado em nós quando estamos mais satisfeitos nEle!” (John Piper)

            Usar a expressão “sonhos de Deus” é apenar falar de forma poética e metafórica sobre a vontade dEle, sobre Seu querer, Seus intentos mais profundos, enfim, Seu Reino. Quando esses “sonhos” entram na gente, a vida ganha novo sentido, novo propósito, novo rumo. Podemos chamar essa vida de vida abundante engajada no Reino de Deus!
            Quando cristãos permitem que a vida de relacionamento com Deus se torne uma rotina domingueira cansativa, sem brilho, sem ânimo, sem uma busca profunda, sem ousadia, os planos dEle para nós são deixados de lado, e assim, mesmo vivendo uma vida chamada de religiosa, acabamos por estar a quilômetros do centro da Sua vontade. Para o estilo de viver que a Bíblia nos apresenta, isso é inadmissível. Por isso proponho outro paradigma de vida: “quando os sonhos de Deus entram na gente!”
            Quando os sonhos de Deus entram na gente os valores e prazeres do mundo são obscurecidos pela beleza de Deus, e nosso olhar se foca exclusivamente na Sua glória. Quando os sonhos de Deus entram na gente a Bíblia se torna nosso livro de cabeceira. Quando os sonhos de Deus entram na gente a vida de oração se torna amizade com o Pai e com nosso irmão mais velho, Jesus Cristo. 
           Quando os sonhos de Deus entram na gente olhamos para as pessoas como criaturas feitas à imagem e semelhança do Pai, por isso consideramos sua dignidade intrínseca. E, assim, colocamo-nos a disposição do Senhor e Mestre Jesus para abençoar tais pessoas.
            Quando os sonhos de Deus entram na gente nos tornamos bons pais, bons filhos, bons trabalhadores, bons estudantes.
            Quando os sonhos de Deus entram na gente aprendemos a ser transparentes e íntegros, tornamo-nos mais gentis, mais amigos, mais graciosos, menos egoístas, mais altruístas; assumimos, dessa forma, uma postura cavalheiresca diante de todos que nos cercam.
            Quando os sonhos de Deus entram na gente compreendemos que com Deus não há barganhas a fazer, afinal, Ele é movido por sua graça e boa vontade. Sendo assim, tudo que fazemos para Ele, o fazemos não esperando receber algo em troca, mas nos concentramos na glorificação do Seu nome. Fazemos simplesmente porque temos que fazer!
            Quando os sonhos de Deus entram na gente entendemos que quando mais aprendemos a nos alegrar e nos regozijar nEle, nossa alma é mais satisfeita. Por isso concentramos nossa vida naquilo que é essencial, louvar e adorar ao Criador e servir e abençoar as pessoas incansavelmente, sem murmurações, com o coração estupefato e maravilhado de alegria!
            Pergunto: os sonhos de Deus estão em você?! Se não, ainda dá tempo de mudar. Pense nisso!                                                                                                               
                                                                                                                                            Pr. Laurencie 

sábado, 5 de novembro de 2011

Quando os sonhos de Deus entram dentro da gente

“Quem mais eu tenho no céu, senão a Ti? E na terra não desejo outra coisa além de Ti?” (Salmo 73.25)

“Fizeste-nos para Ti, e nosso coração vive inquieto enquanto não repousar em Ti!” (Agostinho de Hipona)

            Teologicamente falando, Deus não sonha. Pois Deus tudo pode, tudo sabe e a tudo vê. A Palavra diz: que Ele faz tudo o que lhe apraz! Ou seja, Ele não precisa sonhar. O sonhar é algo que está enraizado no chão da existência humana e, assim, é característico de seres pequeninos, ínfimos, limitados, vulneráveis, presos ao tempo como nós. Então qual é o sentido de falar sobre os sonhos de Deus?!
            Um pensador chamado Wittgenstein disse que o limite do homem é a sua linguagem. Isto é, a linguagem é a expressão daquilo que conseguimos compreender. Por isso, ela nos limita, visto que inúmeras coisas estão para além da nossa compreensão. E Deus, certamente, é alguém que está infinitamente para além da nossa compreensão, humanamente falando é claro. Por isso, Deus conhecendo-nos, decide em sua graça e postura sempre cavalheiresca, revelar-se, não de maneira exaustiva, mas de maneira verdadeiramente verdadeira. Portanto, o que sabemos e compreendemos de Deus foi aquilo que Ele mesmo decidiu falar sobre Si, por intermédio de Sua Palavra. 
            Todavia, ao falarmos sobre Deus, usamos nossa limitada linguagem, afinal, é a única que temos. Alguns por aí, dizem que falam línguas de anjos, mas isso é algo demasiadamente difícil de dar crédito, é uma subestimação da inteligência. Assim, usamos nossa linguagem e nossos sentimentos para expressar os sentimentos de Deus, é o que chamado de antropomorfia e antropopatia. Somos limitados em nossa linguagem e sentimento, mas é o que temos para falar sobre o Mistério chamado – Deus. Por isso podemos, sem ter medo de estar cometendo heresia, falar sobre os sonhos de Deus, Sua vontade, Seu querer, Seus desejos mais profundos.
            Muitos falam exaustivamente sobre Deus, contudo, mais do que ser falado, Deus tem que ser vivido na prática, no chão da vida, no cotidiano, nas lutas diárias, no trânsito, em casa, nos relacionamentos, nas conversas e no lazer. Em nosso mundo, muitos são religiosos de carteirinha, usando uma expressão católica romana, são verdadeiros papa hóstia e adoram discursar sobre religião, moral, enfim, sobre Deus etc, mas será que os sonhos de Deus estão dentro deles? Será que o querer e a vontade de Deus estão na profundidade do seu ser como uma chama que não se apaga? Como uma voz que não se cala? Será?
            E em relação a você, o que se pode dizer sobre esse assunto? Você carrega dentro de si os sonhos de Deus? Ou será que sua espiritualidade virou religiosidade domingueira rotineira e cansativa? Faça um teste e responda para si mesmo: quanto conheço de Deus? Quanto obedeço de Sua vontade? Quanta liberdade Ele tem para exigir mudanças comportamentais em mim? Quanto eu permito que Sua Palavra me leia e me molde e me conduza? Quanto eu me importo com os outros? Quanto eu me dedico à causa de Deus de fazer de Cristo Senhor de toda a vida? Quanto e como eu oro?
            Os crentes genuínos devem se apegar de tal modo a Deus que seus interesses, desejos e sonhos particulares se renderão aos sonhos dEle. E que esses sonhos possam ser considerados um tratado de vida agora e sempre! Para a glória dEle mesmo e para a satisfação da nossa alma. E que assim seja! E se assim não for, não valerá a pena seguir. Quando os sonhos de Deus entram dentro da gente, a vida nunca mais será a mesma!                                                    
                                                                                                           Pr. Laurencie 

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mergulhando em Deus para poder mergulhar em si mesmo

“Por que vês o cisco no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens uma trave no seu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do seu olho; e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho de teu irmão”. (Mateus 7.3 a 5)

“Levai os fardos uns dos outros e assim estareis cumprindo a lei de Cristo”
(Gálatas 6.2)

            Existem duas posturas que um ser humano pode assumir na jornada existencial: o auto-engano e autoconsciência. O auto-engano é aquela atitude teimosa e insistente tomada por alguns que se recusam a olhar para si mesmos com sinceridade, enxergar as falhas, os problemas, os vícios, as maldades que estão no fundo do próprio coração, as mazelas comportamentais da própria vida. Já a autoconsciência é aquela honestidade consigo mesmo e com os outros também, inclusive com Deus, de aceitar o que se é, com toda integridade e sinceridade, seja bom ou seja mau e assumir uma luta constante para ser melhor para Deus, para si e para os outros.
            Em geral, aquele que se auto-engana tende a ser muito duro e rígido com os outros. Isso é bem visível nos religiosos que foram pedra de tropeço no caminho de Jesus Cristo quando ele passou por aqui. Justamente por serem religiosos e cumprirem uma lista gigantesca de tradições, rituais e formalidades tais homens se gabavam de si mesmos e desprezavam os que não eram da sua corja. Não só desprezavam, mas também julgavam e condenavam o tempo todo, tendo um prazer estranho de punir e ver o sofrimento alheio. Aquele que se auto-engana não tem espelho em casa, ou seja, não se enxerga e justamente por não se enxergar minoriza ou desconsidera suas próprias falhas e faltas e se concentra, doentiamente, nas falhas e faltas dos outros. Insiste em tirar o cisco do olho do outro, mas não percebe que há uma trave no seu. Jesus dá um nome para isso: hipocrisia, isto é, o ato de fingir ser algo que não se é, assumir uma atitude de ator, e viver a vida como se esta fosse um palco.
              Já o que tem autoconsciência se vê, enxerga-se com sinceridade e por se ver, acaba olhando para os outros com mais tolerância. Creio que a autoconsciência não é fruto de um encontro consigo mesmo ou de sessões terapêuticas de psicologia profunda, mas é fruto de um encontro existencial com Deus. Só quem se encontra com Deus pode dizer: “miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7.24). Ou dizer ainda: “ai de mim! Estou perdido; porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Isaías 6.5). Perceba que o profeta primeiramente olha para si, só depois atenta para o povo. Só quem se encontra verdadeiramente com Jesus pode afirmar com toda a convicção do seu coração: “afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lucas 5.8). Só quem se abriu honestamente para Deus e disse: “pequei contra Ti ”, (Salmo 51.4) e “eu nasci em iniquidade” (Salmo 51.5) pode também orar na simplicidade de ser o que se é e no anelo por ser mais para Ele: “ó Deus, cria em mim um coração puro e renova em mim um espírito inabalável” (Salmo 51.10). Certamente, a autoconsciência é um dos melhores remédios contra a arrogância.
            Infelizmente a religião, em geral, se tornou uma fonte de auto-engano, pois produz nas pessoas uma falsa sensação de virtude e segurança. Por isso que em muitos casos os religiosos adoram falar das suas proezas e do seu bom comportamento enquanto também falam mal do comportamento de outrem. Nada mais anticristão. A verdade é que por alguém ser religioso não significa necessariamente que tenha tido um encontro com Deus e Cristo. Pois um encontro com o divino deveria produzir humildade e não orgulho, um coração de carne e não de pedra, um olhar generoso sobre o outro e não um olhar cheio de rancor impiedoso e intolerante.
            Jesus não nega que haja um cisco no olho alheio, ele só ensina que para poder ajudar em verdade os outros é preciso primeiramente olhar com sinceridade para si mesmo, reconhecer as próprias faltas e os próprios descaminhos, ou seja, “tirar a trave do próprio olho”, para assim estender a mão, ajudar e se dispor a ser útil “para tirar o cisco do olho do outro”.
            Paulo escreve aos Gálatas: “se alguém for surpreendido em algum pecado, vós, que sois espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade. E cuida de ti mesmo, para que não sejas tentado também” (Gálatas 6.1). O pecado é uma realidade em nossas vidas, em nossas igrejas e temos que aprender a lidar com ele. O julgamento não é o jeito bíblico de lutar contra esse problema. O jeito bíblico é: buscar ajuda em Deus que é gracioso e rico em perdão, olhar para si com integridade para não se achar bom demais, e assim, com espírito de humildade, restaurar aquele que caiu.
            Concluo dizendo que creio plenamente que a igreja do Senhor é uma comunidade de restauração. Ao longo da história da igreja cristã muitas pessoas não tiveram a oportunidade de serem restauradas pois foram desprezadas e excluídas. Pelo amor de Deus, chega disso! Vamos com amor e graça levar as cargas uns dos outros, sem julgamentos, sem condenações. Vamos deixar isso para quem entende do assunto: Deus que é o justo juiz. No caminho da graça a autoconsciência é uma necessidade básica. Busque isso em Deus. Em Cristo, tenho a liberdade e a coragem para dizer: cuide genuinamente de si, para poder cuidar verdadeira e desinteressadamente dos outros também. Kyrie Eleisson.                                                                                                                                                                                                                                                     Pr. Laurencie  

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cristãos intolerantes?!

        É de conhecimento de todos o fato ocorrido nos EUA, Gainesville, Flórida, em que um pastor evangélico queimou em sua igreja o livro sagrado dos muçulmanos, o alcorão, para o mundo inteiro ver. A tola atitude de tal pastor gerou uma onda de manifestações violentas em vários países do Oriente Médio, inclusive pessoas foram mortas nessas manifestações. As questões que surgem são: queimar o livro sagrado de outra religião seria uma atitude cristã? Não respeitar a religiosidade alheia teria respaldo nas atitudes do Cristo? Quem ganha com isso? O reino de Deus ganha? O evangelho ganha? Alguma pessoa é levada a salvação e a conversão a Cristo através de uma atitude assim? Creio que não.
            A atitude do pastor Terry Jones está embasada numa visão fundamentalista do cristianismo, da fé, enfim, da vida. O fundamentalismo cristão prega que a bíblia deve ser interpretada sempre literalmente, o que é um erro hermenêutico obviamente, além disso, tem uma postura muito rígida e até doentio com os que não são cristãos, como mostra a postura do pastor americano. Pelo que me consta todo fundamentalismo religioso, seja cristão ou não, é uma aberração, gera ódio, guerras, mortes, sofrimento e fundamenta a intolerância que leva as pessoas em nome de Deus a desprezarem odiosamente umas as outras.
             Pergunto: como que pessoas chamadas cristãs, servas de Jesus podem desprezar e ignorar seus ensinamentos? Será que podemos jogar pra debaixo do tapete o versículo “a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5.39)? E o verso: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44) podemos nós ignorá-lo? E afirmação de Paulo de que “devemos abençoar os que nos perseguem, e não amaldiçoar” (Rm 12.14) será que podemos fingir que ela não existe? Paulo ainda ensina: “a ninguém devolvei mal por mal” (Rm 12.17), pois a vingança pertence ao Senhor, só a Ele que é multimilionário em justiça.
            Se pudesse conversar com o pastor Terry Jones eu lhe diria: “pastor Terry Jones, o senhor deveria avaliar melhor suas atitudes, visto que seu ato de intolerância gerou ódio e isso levou pessoas inocentes a morte. Lembre-se que Deus respeita a liberdade humana, e nunca obrigou ninguém a servi-lo a contra gosto . Deus criou pessoas livres e não robôs programados para dizer sim. O senhor como pastor deveria saber que Deus não patrocina atos geradores de ódio. O senhor como pastor deveria saber que atos de intolerância não levam ninguém a fé, pois não expressam o amor e a graça divinos. O senhor deveria saber que a graça é a linguagem de Deus e, portanto, deveria ser a linguagem dos que dizem crer no seu Filho Jesus, por isso, arrependa-se da sua tola e insensata atitude e se volte para o Deus verdadeiro que é rico em compaixão”.
            Como cristãos devemos ter plena convicção que o caminho chamado Jesus Cristo é o único caminho da salvação, assim, se Cristo é a verdade, se Deus é como Jesus nos mostrou, então o islã é uma religião distante do único Deus verdadeiro, e o caminho que ela apresenta é um descaminho, todavia isso não pode nos levar a sentir ódio dos muçulmanos, de forma alguma, mesmo que o fundamentalismo cristão pregue isso. Devemos, sim, ser levados a interceder pelos muçulmanos, clamar a Deus por sua salvação, e demonstrar o amor de Cristo através de atos de tolerância e generosidade. Ridicularizar a fé do outro não é um ato de graça, e portanto, não pode vir de Deus.
            A bíblia nos ensina e estimula a sermos misericordiosos e compassivos, por isso nosso olhar sobre aqueles que ainda não conhecem a graça do Pai deve ser um olhar de misericórdia e compaixão, e só assim, poderemos demonstrar a beleza de Deus, só assim os muçulmanos poderão se render a Jesus, somente e tão somente através do amor.
            Ser cristão e ao mesmo tempo ser intolerante com quem quer que seja é uma contradição, um paradoxo e, certamente, é uma postura pecaminosa que ofende a santidade de Deus, por isso, seja tolerante com aqueles que pensam diferente de você. Viva debaixo do padrão divino que é gracioso e respeite a liberdade alheia. Se os cristãos entenderem que o amor é a linguagem de Deus, se os cristãos viverem esse amor e pararem de tentar ganhar as pessoas no grito, pela força, pela imposição, então o mundo vai poder compreender do amor de Deus em Jesus e muitas conversões hão de acontecer.  Enquanto isso não acontece, lamentamos por aqueles que morreram inocentemente. Que mundo injusto! Que “fé” tão improdutiva, ineficaz e des-graçadamente destruidora! Kyrie Eleisson!
                                                                                                                      Pr. Laurencie  

sábado, 19 de março de 2011

A lógica tola dos “amigos da onça” de Jó


 Vós sois todos médicos que não servem para nada. Ah! Antes ficásseis totalmente calados, pois assim passaríeis por sábios” (Jó 13. 4 e 5)

            Sempre que algum tipo de sofrimento acontece, surgem os teólogos, filósofos, religiosos de todas as espécies para dar explicações. Mas o que a experiência mostra é que as explicações para o sofrimento e para dor, em geral, acabam trazendo mais dor e sofrimento do que consolo. O patriarca Jó que o diga. Na verdade, o verso acima citado, foi uma fala de Jó para seus “amigos da onça”: Elifaz, Zofar e Bildade. Quando eles souberam da calamidade acontecida a Jó, solidariamente logo se dispuseram a estar com ele, rasgar as vestes e lamentar junto dele por tamanha dor. Até aí tudo bem. O problema é que eles começaram a falar, a dar explicações, fazer suposições e imposições a Jó etc, infelizmente, abriram a boca, e disseram uma bobagem atrás da outra. Como disse um músico brasileiro já falecido: “quem fala demais, não tem nada a dizer”. Essa citação cai que nem uma luva sobre as cabeças dos amigos de Jó. Quem dera Elifaz, Zofar e Bildade conhecessem a arte de ficar calados, pelo menos teriam passado por sábios.
            Os amigos de Jó passam o tempo todo o acusando de algum tipo de pecado, visto que nas suas mentes, o sofrimento era consequência de desobediência a Deus, ou seja, pecado. Da argumentação desses homens, surge uma teologia que pode ser nomeada de várias maneiras, tipo: teologia da retribuição, teologia moral de causa e efeito, enfim, essa é a teologia dos “amigos da onça” e falastrões de Jó. Essa teologia parte do pressuposto de que coisas boas acontecem somente com pessoas boas, e coisas ruins acontecem só com pessoas ruins. Por isso que argumentaram incessantemente que Jó havia feito alguma coisa ruim para estar sofrendo. Dentro dessa lógica tola quando alguém sofre, é porque está pagando por algum mal que cometeu,  e isso, nada mais é do que conceito de carma dos espíritas kardecistas.
            O livro de Jó nos mostra de maneira muito clara que ele era íntegro e correto, e apesar disso, estava passando por um tempo de sofrimento terrível. Ou seja, o livro de Jó desconstrói a teologia da retribuição, e isso significa que o mal que acontece no mundo nem sempre é para retribuir a outro mal feito. O livro de Jó derruba o conceito kardecista de carma. Assim afirmo: coisas ruins acontecem com pessoas boas e com pessoas ruins, e coisas boas acontecem com pessoas boas e pessoas ruins, afinal, Deus derrama chuva sobre justos e injustos, e a vida, por mais que não aceitemos, é dialética.
            Já faz mais de 5000 anos que o livro de Jó foi escrito, e para nossa tristeza, as vozes dos “amigos da onça” de Jó ainda ecoam por aí. Refiro-me a calamidade acontecida no Japão. Alguns pastores e líderes religiosos têm usado sua tribuna para dizer que o terremoto e tsunami acontecidos no Japão são frutos do pecado daquele povo, é a velha teologia carmica da retribuição querendo ressuscitar. Confesso que não aguento mais ouvir tantas bobagens, meu anseio é que tais homens fiquem calados, pois biblicamente falando, não têm nada a dizer. Suas palavras não provêm da graça e estão entorpecidas de julgamento e dor. Nas palavras de Jó são “médicos que não servem para nada”. E, portanto, suas palavras e seus ensinamentos devem ser de todo desprezados.
            Diante do sofrimento, não fique procurando explicações, pois certamente obterá respostas incompletas e até mesmo equivocadas, que gerarão mais sofrimento. Ao invés disso, procure calar a sua alma e suas inquietações diante do Senhor, e saiba que Ele não desprezará um coração quebrantado e contrito (Salmo 51.17). Na hora da dor o melhor a fazer é aprender a arte de ficar calado. Se for pra falar, que seja para pedir por misericórdia e consolo.
            Se Deus não fosse o Deus da Graça só nos restaria esperar pela desgraça, mas como Ele é verdadeiramente o Deus de toda a Graça, e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, só nos resta caminhar por essa vida sofredora com a expectativa de que um dia tudo se fará novo e todas as lágrimas serão enxugadas (Apocalipse 21.4 e 5). Enquanto isso, gememos de dor e nos calamos diante do sofrimento incompreensível às nossas mentes finitas, todavia, verdadeiramente, nossos gemidos de dor são também gemidos graciosos de esperança (Romanos 8.22). Por isso tomamos a decisão de nunca nos deixar vencer pelo desespero, e tomamos a decisão de nunca julgar o sofrimento alheio. Minha oração e meu desejo é que os seguidores dos “amigos da onça” de Jó se calem para sempre! Mas mesmo que eles não se calem, tomo a decisão de nunca mais lhes dar meu tempo e minha atenção! Amém!
                                                                                                     Pr. Laurencie





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Coisas que a Bíblia não ensina, mas os evangélicos acreditam


“Nem os céus e os céus dos céus podem te conter; muito menos este templo...” (II Crônicas 6.18b)

                Pensar biblicamente é uma tarefa complexa, árdua e desafiadora. Isso porque ao longo da vida, nós vamos recebendo ensinamentos, tradições e uma cultura a qual nos é imposta, e, infelizmente, nem sempre tais ensinamentos, tradições e cultura estão de acordo com a Palavra de Deus, mesmo que essas coisas tenham sido ensinadas dentro de um contexto religioso. Meu desafio hoje é trazer a tona um preceito que em geral os evangélicos acreditam, mas que não está respaldado nas Escrituras. Meu anseio é que você ouse ser um crente bereano, isto é, que analise, questione, pense, reflita, e mergulhe diariamente nas verdades das Sagradas Letras (Atos 17.11) e construa assim uma cosmovisão cristã profundamente bíblica.
                Pergunto: será que é correto pensar que um templo feito por mãos humanas é a casa de Deus? Talvez influenciado pelo Salmo 122.1: “Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor” – você acredite que sim, todavia tenho a responsabilidade de lembrá-lo que desde o Êxodo o tabernáculo era o lugar do culto a Deus, e depois, no reinado de Salomão, já na terra prometida, o templo passou a ser o lugar exclusivo do culto e da adoração ao Senhor. Apesar disso, veja a oração de Salomão na inauguração do templo: “Na verdade habitaria Deus com os homens na terra? Nem os céus e os céus dos céus podem te conter; muito menos este templo que edifiquei! Porém [...] que teus olhos estejam atentos dia e noite para este templo [...] para ouvires a oração que teu servo fizer voltado para este lugar” (II Crônicas 6.18 a 20). O próprio Salomão que viveu de acordo com as perspectivas na Antiga Aliança já sabia que um templo feito por mãos humanas não poderia conter a glória de Deus, quanto mais ser a Sua casa. Um servo de Deus dos tempos do AT até poderia pensar assim, como o salmista, afinal a arca da aliança estava no templo, porém, tal lógica não é permitida aos cristãos que vivem graciosamente os tempos da Nova Aliança.
                E o Novo Testamento o que tem a dizer sobre isso?! Certa vez, uma mulher disse a Jesus: “nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que Jerusalém é o lugar da adoração” (João 4.20). Jesus lhe respondeu: “mulher, crê em mim, a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai, [...] mas virá a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (João 4.21 e 23). A mulher citada no texto pensa que adorar a Deus é uma questão de lugar, tanto que ela pergunta: “no monte ou no templo (em Jerusalém)?”e Jesus lhe ensina que adoração não é uma questão de lugar, é uma questão da disposição do coração: “em espírito e em verdade”, ou seja, em tudo o que se faz, na plena sinceridade do ser.
                Na sua primeira carta a igreja de Corinto o apóstolo Paulo questiona aqueles irmãos: “não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Coríntios 6.19). E o apóstolo Pedro afirma em sua carta: “vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (I Pedro 2.5). Paulo mostra que a habitação do Espírito Santo – a terceira pessoa da Trindade – é o corpo do cristão, e Pedro ensina que pessoas que vivem em Jesus Cristo são como pedras vivas que formam uma casa espiritual, ou seja, a igreja que é essencialmente formada de gente é casa espiritual, que significa nada mais nada menos do que ser habitação do Espírito, enfim, casa de Deus.
                Concluo dizendo: caro irmão e irmã, a Bíblia não os autoriza a acreditar que um templo feito de chão, parede, telhado é casa de Deus, pois como diz um cantor evangélico sábio: Deus não habita em templos feitos por mãos de homem. Talvez você pergunte: qual a importância então de um templo, de acordo a Palavra de Deus? O templo, biblicamente falando, tem importância secundária e até terciária, não é a toa que o templo da religião judaica, só nos tempos bíblicos, foi destruído três vezes. Assim, afirmamos que o templo é apenas um local de ajuntamento, não há nada de sacralidade nele, pois segundo os ensinamentos do Novo Testamento, não existem lugares santos, nem coisas santas, só existe o povo santo, isto é, gente que serve a Jesus vivendo na comunhão do Espírito. Encerro citando novamente o cantor de palavras sábias: “Deus não habita em templos feitos por mãos de homens, Deus não será jamais acorrentado às paredes de uma Religião, Deus não será jamais enclausurado na escuridão de quem ainda tem um coração de pedra”. Ouse abandonar ensinamentos que a Bíblia não ensina. Pense nisso!           Pr. Laurencie