quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Evangelho da Crise

Certamente a igreja de Cristo precisa de um despertamento urgente. Como disse Jesus, “os campos estão brancos para a colheita”, ademais o sofrimento no mundo é gigantesco e em muito de nossos templos, supostamente cristãos, estão discutindo, há anos, sobre o sexo dos anjos. O chamado divino para ser sal e luz no mundo tem sido esquecido ou tradado levianamente. O despertamento, tão necessário, só acontecerá quando todos nós nos voltarmos para o Senhor Deus com todo nosso coração, alma, força, vontade e entendimento. Imaginemos que nós fossemos passar por uma prova surpresa exatamente agora. A prova teria 6 questões. E as perguntas seriam: Será que nós, como igreja, temos aprendido:
A pensar de forma precisa?!
A se comportar eticamente?!
A pregar apaixonadamente?!
A cantar alegremente?!
A orar honestamente?!
E a obedecer fielmente?!
Fica aí as perguntas para cada um fazer sua autoavaliação. Impulsionado por esses questionamentos, enfatizo que não é possível pensar num relacionamento profundo com Deus, sem passar pela compreensão e vivencia do Evangelho de Jesus de Nazaré. Infelizmente, muitos crentes pensam que Evangelho é a mensagem que tem que ser pregada somente para os não convertidos, mas isso não é verdade, isso não é verdade mesmo; o Evangelho não é só para iniciantes na fé, como diz Tim Keller, “ele não é o ABC da vida cristã, ele é o de A a Z da vida cristã”. E a igreja não só precisa compreender o Evangelho com profundidade, mas precisa viver de acordo com ele. Ou seja, o Evangelho é um desafio constante para igreja do Senhor, e a Bíblia nos mostra, em muitos exemplos, que muitas igrejas se afastaram do Evangelho de Deus. Por isso precisamos vigiar e orar para não transformarmos a mensagem radical de Jesus numa água com açúcar que não faz diferença na vida de ninguém.
Por isso gostaria de pensar sobre o Evangelho da Crise. E o objetivo deste texto é que compreendamos que Evangelho de Jesus toca, questiona e transforma nossa vida em todas as dimensões, pois não há nenhuma área da vida humana que Cristo não queira exercer seu Senhorio.

Definindo a palavra crise
É comum ouvirmos a palavra crise, principalmente nos dias atuais em nosso país e em muitos países da América Latina. E geralmente a ideia que se tem de crise é pejorativa. Segundo Leonardo Boff no livro – Crise: oportunidade de crescimento – crise, etimologicamente, pode significar “desembaraçar” ou “purificar”. A crise age como um crisol (elemento químico) que purifica o ouro ou a prata das impurezas, acrisola (purifica, limpa) dos elementos que se incrustaram e podem comprometer a substância. Crise, neste sentido, purificar para manter o cerne, a essência. De crise vem ainda a palavra critério que é a medida pela qual se pode julgar e distinguir o autêntico do inautêntico, o bom do mau. A crise é uma descontinuidade e uma perturbação dentro da normalidade da vida provocada pelo esgotamento das possibilidades de crescimento de um arranjo existencial. A crise acontece quando os modelos existenciais pré- estabelecidos já não dão mais conta da realidade. Os paradigmas estão caducos. Daí vem a crise. Que gera uma perturbação no sistema para transformá-lo.
Às vezes, Deus faz isso conosco. O vento dele sopra, faz uma bagunça na nossa vida para colocar as coisas no devido lugar. O sofrimento é algo que Deus pode usar neste sentido.
O sistema capitalista como se apresenta hoje já mostra sinais de desgaste. É por isso que existem tantas crises. Este modelo de consumo ad infinitum não vai resistir por muito tempo. As escolas, com seu modelo de ensino tradicionalista não dão conta das demandas de hoje. Poderíamos ainda citar o modelo político de nosso país e sistema carcerário. As próprias igrejas têm passado por crises porque seus paradigmas já não dão conta da complexidade da pós-modernidade.
Mas o Evangelho de Jesus não envelhece nunca e sempre traz a Boa Notícia de Deus aos homens e mulheres de todos os tempos, de todos os lugares e de todas as culturas.

O Evangelho da Crise
Usamos a expressão o Evangelho da Crise porque o Evangelho de Jesus, sua mensagem transformadora de salvação que afirma que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, provoca crise. O Evangelho de Jesus é um incomodo para todos os sistemas inclusive para os sistemas religiosos. Exemplifiquemos rapidamente, pensando em modelos e estruturas que haviam no tempo de Jesus: Jesus gera crise no modelo fariseu da vida. Eles pregavam, como preparação para a estourar do reino, a estrita observância da lei. Abordavam a realidade com categorias preconcebidas e moralizantes: justo e injusto, piedoso e ímpio, próximo e não próximo. Jesus, provoca este sistema ao afirmar que as pessoas não são aceitas por Deus com base em méritos e prática da lei mosaica e da tradição da religião. Parafraseando Paulo Brabo: “Jesus Cristo era considerado pelos religiosos de sua época um judeu desaforado, por pregar que as pessoas eram aceitar por Deus com base em seu próprio cavalheirismo e graciosidade, mediante ao sacrifício de Jesus”. E não no cumprimento das regras da tradição.
Jesus gera ainda crise na modelo de vida dos essênios. Os essênios eram uma comunidade de monges de grande rigorismo, vivendo nos mosteiros de Qunran, perto do Mar Morto. Conforme os manuscritos descobertos em 1948, eles excluíam do reino todo aleijado das mãos, dos pés, cego, surdo, mudo ou portador de qualquer mácula. Cristo, pelo contrário, convida a participar na ceia do Reino os pobres, aleijados, cegos e coxos. “ O servo voltou e contou tudo a seu senhor. Então, indignado, o dono da casa disse ao servo: Sai depressa para as ruas e becos da cidade e traze aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os mancos.” (Lucas 14.21) Entre os essênios ainda reinava a mais rigorosa ordem hierárquica sob a alta direção sacerdotal. Em vez de hierarquia Cristo ensina a hierodulia (serviço sagrado): Aquele que quiser ser maior seja o servidor, e aquele que quiser ser o primeiro seja escravo de todos. (Mc 10.43 e 44)
Jesus também gera crise na mentalidade de vida dos zelotes. Os zelotes eram um grupo de guerrilheiros piedosos que lutavam por uma teocracia política. Os zelotes queriam provocar a intervenção de Deus através de atos de ódio e terror. Mas Cristo propaga uma mensagem de amor e perdão. E diz que seu Reino não deste mundo e não se baseia nas prerrogativas deste mundo. Até mesmo na cruz Jesus demonstrou sua mansidão. Ao exercitar para consigo mesmo o poder de não usar violência: não pedir fogo do céu, não aceitar a espada como instrumento de vingança. Para o modelo de vida dos zelotes, Jesus era subversivo. Poderia citar outros exemplos, como os saduceus. Mas vamos citar um último e parar por aqui.

Jesus gera crise na vida dos discípulos
Jesus gerou uma crise na vida dos discípulos quando eles ainda nem eram discípulos. É importante retomarmos o conceito de crise que estamos usando aqui, que é algo que desembaraça e purifica, algo que faz as coisas serem de fato o que são, trazer de volta ao cerne, voltar para a essência, provoca e questiona um determinado sistema de vida para propor novos modelos e arranjos existenciais. Toda a vida de Jesus, neste sentido que estamos falando, é uma provocadora de crises. Até mesmo em seu nascimento, que abalou as estruturas do palácio de Herodes, provoca crise ainda na estrutura de vida dos judeus pois o Senhor vem, a priori, para os que eram seus (do seu povo), mas os seus não o recebem (João 1.11). Gera crise quando ele surge pregando o Evangelho do Reino e aceitando com base na fé e por meio da graça, pessoas fora do sistema como os leprosos, crianças e mulheres. Ele abalou as estruturas do pensamento e de vida da sociedade de seu tempo. E é essa crise que ele provoca naqueles homens daquele tempo, quando depois da prisão de João Batista, ele começa a pregar: “O Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no Evangelho”. É por isso que Simão, André, Tiago e João imediatamente a se encontrarem com Jesus abandonam seu modelo antigo de viver. Ao dizer que o Reino está próximo, não está querendo dizer que vai chegar daqui a pouco, como quem fala de uma proximidade em termos de tempo. Ele está dizendo que o Reino está acessível, Jesus está prometendo acesso a uma realidade vivencial. E Reino é o ambiente em que a vontade de seu soberano é exercida sem restrições e resistências. Ou seja, Jesus está dizendo que o ser humano pode participar do ambiente em que as coisas funcionam do jeito de Deus, onde a realidade humana está em harmonia com a realidade divina. E para ter acesso a este Reino ele fala de arrependimento, metanoia, mudança da mente, expansão da consciência, capacidade de enxergar as coisas de um outro prisma o mesmo enxergar a vida de perspectiva mais completa. É a experiência que permite as pessoas dizerem eu mudei e a minha vida nunca mais será a mesma. Não consigo ver as coisas do mesmo jeito de sempre. Mudança de atitude. Mudança de comportamento. Mundança de rota (Ver o livro Vivendo com Propósitos de Ed René Kivitz).
Quem se arrepende abandona uma direção de vida e toma outra. É preciso aceitar que nosso modelo antigo de viver confrontava Deus e precisamos nos render a Ele dia a dia. O Evangelho da crise questiona nosso sistema de vida para nos colocar no lugar certo.

Conclusão

É tempo de servirmos ao Senhor de verdade, com alma e integridade, sem querermos perverter sua mensagem só para ficarmos numa zona de conforto com a consciência alienadamente tranquila. Se o Evangelho não tem gerado crises em nossos sistemas e paradigmas de vida é porque certamente o evangelho que afirmamos crer está desalinhado e desajustado com aquela mensagem que saiu da boca de Jesus. Um evangelho falsificado não terá condições e forças para transformar o coração humano, muito menos para fazer diferença na sociedade. Deus tenha misericórdia de nós!

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Mapa da violência de 2015

Neste documento está apresentado as estatísticas da violência no Brasil nos últimos anos, especialmente no que se refere a mortes por armas de fogo. As estatísticas são impessoais e não tem condições de expressar a dor e o sofrimento de cada família, porém nos ajudam a enxergar esses males que tem acontecido e onde exatamente tem acontecido.
Este é um documento triste de ler, mas que precisa ser lido. Que abramos nossos olhos para tanta dor que há em nossa volta e oremos: Venha o Teu Reino, Senhor Jesus! Amém. E nos engajemos para levar esperança a todas as pessoas que encontrarmos em nossa Jornada.


http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/mapaViolencia2015.pdf

A dignidade intrínseca de um ser humano

“Que é o homem, para que te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites? Tu, ó Deus, o fizeste um pouco menor que os anjos e o coroaste de glória e honra”. (Salmo 8.4 e 5)
               
                Em dezembro de 2014 saiu a notícia de que vários patrocinadores do maior campeão da Fórmula 1, Michael Schumacher, estavam deixando de patrociná-lo. No mundo capitalista que nós vivemos, onde Mamon reina e o lucro é a única coisa que importa, esse tipo de situação é normal, infelizmente. Porém, a questão não é só financeira, pois tem algo mais profundo nisso. A verdade é que as grandes empresas certamente não gostam de associar seu nome e sua marca a alguém que está preso a uma cadeira de rodas. Ou seja, sua visão da vida é extremamente utilitarista, o valor de uma pessoa está atrelada a sua “utilidade”, perdendo a suposta utilidade, perde-se também o valor.
                Segundo a OAB da Paraíba, há mais de 15 tribos indígenas que praticam o infanticídio. Isso acontece por conta de sua prática religiosa milenar entorpecida e também pela compreensão de que essas crianças serão um peso e, portanto, devem ser eliminadas. Mais uma visão utilitarista das pessoas.
                Nesta hora, enquanto esta pastoral está sendo escrita em vários escritórios e salas de nosso país e mesmo do mundo, muitos empresários e políticos e seus camaradas tramam e combinam o quanto lucrarão em certos tipos de negócio e sempre em detrimento das pessoas. E também combinam como encobrirão os fatos e como vão esconder o dinheiro, mandando-o, certamente, para algum paraíso fiscal. Eles vivem nas nuvens, e boa parte da população, na lama.
                Nesta hora em vários templos evangélicos de nosso país pessoas são enganadas, um mundo de irrealidade e um “deus” inventado é vendido a elas, por um preço caro. E pessoas alienadas seguem seus líderes alienantes que não se importam nenhum um pouco com elas, só com suas gordas ofertas. Utilitarismo, mercantilismo e alienação dentro de templos. Bem que o cantor João Alexandre cantou: “a morte se esconde atrás dos templos”, pelos menos, de alguns.
Nesta hora bandidos se reúnem em vários lugares e pensam em como será o próximo roubo, o próximo assalto, o próximo golpe, a próxima vítima, a próxima invasão de uma casa ou de um banco ou loja ou empresa. As pessoas que serão roubadas não importam, os traumas gerados nelas, caso elas sobrevivam não importam, o que importa somente é o quanto será arrecadado, mesmo que seja as custas do sofrimento alheio. Utilitarismo para justificar o crime!
                Traficantes também pensam em como trazer sua mercadoria e engambelar a fiscalização. Eles pensam em como levar as drogas para as universidades, para as fábricas e até mesmo para o homem do campo e o homem de negócios. As pessoas são um meio para o seu fim. A destruição das vidas e famílias não se considera. Só o lucro e o poder. Utilitarismo com gosto de sangue das vítimas.
                Em contrariedade a essa visão utilitarista do ser humano, a Bíblia nos mostra o valor intrínseco de cada um e nos ensina que o ser humano nunca pode ser usado como o meio para se atingir algo, ou seja, o ser humano não pode ser coisificado, apenas pode e deve ser tratado como sujeito carregado de dignidade. Logo nas primeiras páginas do Livro Sagrado encontramos Deus criando o ser humano com todo carinho, imprimindo nele sua marca, sua preciosa imagem e semelhança (Gênesis 1.26). E é neste ato criador e amoroso de Deus que está a explicação para a dignidade de cada ser humano e tal dignidade lhe é intrínseca pois é prévia até mesmo a sua existência, pois é dádiva divina. Não é algo que se conquiste pelo esforço, ou pelo trabalho, ou pelo status, ou por empreendedorismo, ou pelo dinheiro, não mesmo. É algo dado como obra da graça.
                Se avançamos na leitura do texto bíblico vemos a leis de Moisés, criadas para que o povo de Deus construísse uma sociedade diferente das outras nações, onde todos tinham voz e vez, e os mais fracos eram cuidados com toda consideração e respeito.
                Na continuidade da leitura encontramos os profetas lutando com toda coragem, em nome do Senhor, contra os poderosos do governo e da religião. Defendendo a justiça, defendendo o direito, a retidão e a verdade. E orando assim em lágrimas: “Corra a justiça como as águas e a retidão, como o ribeiro perene”(Amós 5.24).  Por conta de sua compreensão de Deus e da vida foram perseguidos, lançados na cadeia e alguns até foram mortos. Lutaram, em nome de Deus, pelos mais fracos e vulneráveis de sua sociedade.
                Não poderíamos deixar de citar o Senhor Jesus, que representa a personificação do amor do Pai. Jesus revela a face de Deus, face, esta, cheia de ternura e misericórdia. Para mostrar como é o coração do Pai, Jesus nasce na terra de Belém, cidade sem importância nenhuma, e a geografia de Jesus é a geografia dos esquecidos, marginalizados, impuros e incapazes, isto, segundo a religião da época. A estes, e a todos que desejarem, Jesus revela o Reino, Jesus os acolhe, abraça e demonstra a graça divina com gestos ricos de comprometimento humano e no compartilhar de sua alegria singela.
Nos servos de Deus e no Filho de Deus não se vê utilitarismo. Nunca as pessoas foram usadas por eles, nunca tratadas como um meio, mas sempre como um fim. Sempre reconheceram sua dignidade intrínseca, seu valor próprio. Sempre as respeitaram e trataram com consideração. Mesmo quando as pessoas agiram erroneamente, mesmo quando pecaram, mesmo quando crucificaram ao Salvador, o Senhor clamou graciosamente por perdão sobre elas: “Elas não sabem o que fazem” (Lucas 25.34).
A Bíblia ensina que Deus amou o mundo (João 3.16) e isso quer dizer todas as pessoas de todos os tempos e de todos os tipos. E aprouve a Cristo, por misericórdia, morrer em prol de todos os seres humanos para lhes propiciar salvação. Portanto, quando olhar para qualquer ser humano, veja ali e alhures alguém amado por Deus e que tem dignidade intrínseca pois Deus assim o quis.
Que possamos nos espaços que participamos, inclusive na igreja e especialmente na família, ter uma visão bíblica do ser humano, reconhecendo seu valor e dignidade, tratando-o com todo respeito, sempre agindo esperançosamente, esperando que as pessoas que se encontram conosco, possam se encontrar com o Cristo. A linguagem de Deus para com o ser humano é a graça, nunca o utilitarismo.

Oremos para que o Deus de toda a graça nos capacite a sermos agentes da graça neste mundo mal e sofrido. Venha o teu Reino, Senhor! Amém.        

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Conversa do Irmão Fulano de Tal com sua Bíblia sobre discipulado

                                                                    Terei prazer nos teus decretos; não me esquecerei da tua palavra. (Salmo 119.16)

Bíblia: Até que enfim você se lembrou de mim. Pensei que nunca mais sairia daquela estante.
Irmão Fulano de tal: Pois é. Tenho pensado bastante em minha vida e acredito que está na hora de mudar. Crescer. Amadurecer. Me importar mais. Servir mais e melhor ao Senhor e as pessoas em Seu nome.
Bíblia: Seja transformado pela renovação da sua mente. (Rm 12.2)
Irmão Fulano de tal: Mas esta transformação é processual ou é um ato que ocorre de uma vez por todas quando aceitamos Jesus como Senhor e Salvador de nossa vida?
Bíblia: Meus filhos, por quem sofro dores de parto, até que Cristo seja formado em vós (Gl 4.19).
Irmão Fulano de tal: Entendi! É um processo né?  Com este versículo escrito pelo apóstolo Paulo ficou claro. Ele teve que trabalhar com muito empenho, suor e lágrimas, para que as comunidades da Galácia pudessem andar no caminho de Jesus. Como posso saber se estou vivendo minha vida de acordo com os princípios e valores de Jesus?
Bíblia: Examine, pois, o homem a si mesmo (I Co 11.28). Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno (Sl 139.23 e 24).
Irmão Fulano de tal:  Eita, Bíblia, você entende mesmo das coisas hein. Ainda por cima vai direto ao ponto. Quando você usou a palavra caminho ficou mais evidente pra mim que a vida com Deus é um processo de crescimento que nunca para. É isso que significa discipulado? Me explica melhor isso...
Bíblia: Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a cada dia a sua cruz e siga-me (Lc 9.23).
Irmão Fulano de tal: Mas eu pensei que esse negócio de seguir Jesus e tomar a cruz era somente ser evangélico, frequentar a igreja no domingo, dar o dízimo de vez em quando. Não é isso?
Bíblia: Então, como santos e amados eleitos de Deus, revesti-vos de um coração cheio de compaixão, bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando e perdoando uns aos outros; se alguém tiver alguma queixa contra o outro, assim como o Senhor vos perdoou, também perdoai. E, acima de tudo, revesti-vos do amor, que é o vínculo da perfeição (Cl 3.12 a 14).
Irmão Fulano de tal: Puxa vida! Tô por fora mesmo! Tenho ficado muito tempo na frente da TV e do celular. Quanto tempo jogado fora. Agora compreendo que o discipulado é uma longa peregrinação de transformação para ser como Jesus. Mas se sou crente há bastante tempo, preciso mesmo ser discipulado?
Bíblia: Não que eu já a tenha alcançado, ou que seja perfeito; mas vou prosseguindo, procurando alcançar aquilo para que também fui alcançado por Cristo Jesus. Irmãos, não penso que eu mesmo já o tenha alcançado; mas faço o seguinte: esquecendo-me das coisas que ficaram para trás e avançando para as que estão adiante, prossigo para o alvo, pelo prêmio do chamado celestial de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.12 a 14).
Irmão Fulano de tal: Agora você me convenceu Bíblia. Se Paulo, no fim da carreira, entendia que não estava pronto, que não era perfeito e que precisava avançar mais pra ser como Cristo, quanto mais eu. Mas será que não posso crescer buscando a Deus sozinho na minha casa, te lendo às vezes e orando de vez em quando?
 Bíblia: Ensinai e aconselhai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão no coração (Cl 3.17). Confessai vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros (Tg 5.16). Levai os fardos uns dos outros e assim estareis cumprindo a lei de Cristo (Gl 6.2).
Irmão Fulano de tal: É isso que meu pastor chama de “estilo de vida uns aos outros” né? Pra crescer na fé, é preciso fazer isso na companhia dos irmãos que se tornam companheiros de jornada. Não dá pra ser cristão e querer crescer só por força de vontade vivendo no individualismo. Tem certeza, Bíblia, que não dá mesmo pra fazer isso sozinho?
Bíblia: Pensemos em como nos estimular uns aos outros ao amor e às boas obras, não abandonemos a prática de nos reunir, como é costume de alguns, mas, pelo contrário, animemo-nos uns aos outros, quanto mais vedes que o Dia se aproxima (Hb 10.24 e 25).
Irmão Fulano de tal: Pronto, me convenceu. Percebo que este negócio de discipulado é coisa séria, não é só mais um programa ou modismo da igreja. Fala pra mim Bíblia, o que vai mudar na minha vida se eu aceitar viver com plena convicção de que devo ser um discípulo e devo amadurecer constantemente na fé?
Bíblia: Eu vos escolhi e vos nomeei a ir e dar fruto, e fruto que permaneça, a fim de que o Pai vos conceda tudo quanto lhe pedirdes em meu nome (Jo 15.16).
Irmão Fulano de tal: Que coisa linda, Bíblia, esse negócio de discipulado. Frutificar a partir de um relacionamento íntimo com o Pai e com meus irmãos. Fiquei encantado! Neste lance de discipulado, pode contar comigo, tô dentro. Quando devo começar?

Bíblia: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais vosso coração (Hb 4.7).

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Oração para tempos de crise

Lançando sobre ele toda vossa ansiedade, pois ele tem cuidado de vós.  (I Pedro 5.7)

                Desde que o mundo é mundo as crises fazem parte da história. Em maior ou menor proporção, estão sempre presente na vida, aparecem nas mais diversas formas e estão intrinsecamente vinculadas a construção de nossa humanidade.
                É importante que se diga que as crises não precisam ser necessariamente interpretadas somente pelo viés pejorativo, pois mesmo gerando em nossas vidas situações complexas que podem provocar sofrimentos, elas podem suscitar mudanças significativas para o nosso próprio bem. Por exemplo, um pai de família que é mandando embora do serviço e fica desolado e depois acaba achando um emprego melhor, uma pessoa que após um acidente consegue ver a vida com um olhar mais profundo e começa se dedicar mais as coisas essenciais; os exemplos são muitos.
                A questão, portanto, não é se passaremos ou não por crises mas, sim, quando passaremos e como passaremos. É aí que entra a oração, graça divina, para nos relacionarmos de forma intima com Deus, nosso Pai, e a partir deste relacionamento encontrar forças para enfrentar os dilemas da vida.
                Não se trata de se ter um olhar triunfalista e alienado da existência onde se pensa que Deus nos mima a ponto de nos enrolar num saco bolha para que nos poupe de toda frustração, decepção ou desilusão. Certamente, Deus não é um Pai irresponsável, o autor da carta aos Hebreus afirma: “Porque o Senhor educa quem ele ama e corrige quem ele acolhe como filho” (Hebreus 12.5). É sempre possível compreender as crises como pedagogia de Deus. Não punição, nem castigo segundo pensa o senso comum. Mas oportunidade de aprender e crescer. Esse é um processo doloroso.
                Sendo assim, tendo consciência de que as crises são realidades que fazem parte da vida, e que Deus não vai nos livrar necessariamente delas, temos que aprender a enfrentá-las. Por favor, não fiquemos zangados com Deus, ou com nossa família, ou com o cachorro, ou com o clima, ou com quem quer que seja porque estamos enfrentando crise, pois isso não vai nos ajudar em nada e não mudam as coisas em nenhum centímetro. Que possamos compreender que as crises vêm e vão, e sempre será assim, mas, como uma tempestade, elas passam e outras certamente virão. A pergunta que não quer calar é se nós sairemos da crise pior do que entramos?  
             Meu conselho é que possamos aprender a orar em meio às crises. Não para Deus impedir que elas venham, mas que possamos sabia e pacientemente superá-las. A oração para tempos de crise não é uma fórmula mágica do tipo “abra-te sésamo” que resolve tudo numa fração de segundo, nem mesmo frases carregadas de fetiche do tipo de autoajuda que diz que “há poder em suas palavras”, não é nada disso.
                A oração para enfrentar as crises é aquele que brota de uma pessoa que ama a Deus e sabe lá no fundo do coração que Ele vai cuidar dela em todos os momentos. Ele é Deus de todas as horas. A oração em tempos de crise vai pelo caminho apontado por um sábio irmão que disse: “Oro a Deus não pedindo cargas mais leves, e sim ombros mais fortes”. É a oração sintonizada com a oração de Jesus: “Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito” (Lucas 23.46) que representa o lançar-se por inteiro nos braços do Pai na hora da crise mais profunda. É a oração que não nega o sofrimento, não o empurra para debaixo do tapete, não subestima as próprias dores, não promete atalhos de fuga, nem alívio rápido, todavia a partir da dor e da angústia, se aproxima do Pai em humildade legítima e em dependência absoluta do seu favor, e como resultado desse encontro existencial com o Sumo Bem, Suma Beleza e Suma Graça que é o Aba-Pai, encontra forças para continuar a trilhar pelos caminhos da vida com coragem e fé perseverante.
                Meus companheiros e companheiras de jornada, se vocês não aprenderem a andar com Deus e a confiar nas suas benevolências no tempo da crise, não é o do tempo da alegria que isso vai acontecer. Talvez a sua crise seja provocada por problemas no seu relacionamento conjugal, ou com seus filhos; ou pode ser por falta de dinheiro, ou desemprego; ou pelo fato de alguém de sua família ou um amigo estarem doente. Os motivos podem ser diversos. Mas questão principal é aceitarmos e admitirmos que estamos em crise, e procurarmos com sabedoria que vem de Deus (ver Tiago 1.5) enfrentá-la, mas não só isso, a partir dela, aprofundar o relacionamento com o Senhor e crescer na fé e na maturidade cristã.

                Que tal se uma vez ao dia tomássemos a decisão de seguir o conselho de Jesus sobre oração: “tu quando orares, entra no teu quarto e, fechando a porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que vê o que é secreto, te recompensará” (Mateus 6.6). Nos tempos de crise é sempre bom lembrar que Deus recompensa aqueles que o buscam (Hebreus 11.6). Força meus amados irmãos e amadas irmãs! Deus é conosco! E a tempestade vai passar! Kyrie Eleisson!
                                                                                                                                                                 Laurencie

sábado, 7 de março de 2015


Jesus e as mulheres

Sempre é um privilégio poder falar de Jesus Cristo. E falar de sua prática e atitude para com as mulheres é um privilégio demasiadamente gratificante, ainda mais pelo fato de ontem ser o dia que se comemora o dia internacional da mulher, dia pra celebrar muitas conquistas realizadas. Diante desse contexto, esta pastoral foi escrita para homenagear as mulheres e chamar a atenção para as muitas lutas que ainda precisam ser vencidas. Acredito piamente que é impossível falar da devida valorização da mulher e equidade com os homens sem falar de Jesus. Devemos reconhecer que há uma gigantesca distância cultural entre nós que estamos no século XXI e o mundo na Palestina do primeiro século. Cito o autor Paulo Brabo que diz: “Essa distância cultural certamente nos impede de apreender toda a extensão da influência de Jesus e a absoluta novidade de sua postura, mas é certo que nenhuma outra figura masculina da antiguidade oriental – seja no domínio da realidade ou até mesmo da ficção – sentiu-se mais a vontade entre as mulheres do que o Jesus apresentado pelos evangelhos”.
Devo lembrar que não faz cem anos que as mulheres alcançaram o status social igualitário no Ocidente, o que os Evangelhos descrevem que ocorreu há dois mil anos.
                Devo lembrar ainda que naquela época um marido não deveria se dirigir à própria esposa em lugar público, e que homem algum deveria trocar palavra com uma mulher desconhecida (em ambos os casos para proteger a sua honra e não a dela), o Mestre de Nazaré buscava a companhia amistosa de mulheres, puxava conversa com elas, tratava-as com admiração e naturalidade, interessava-se sem demagogia pelos seus interesses, permitia, gentilmente, que lhe tocassem em público, não só seu corpo, como no caso da mulher que tinha hemorragia crônica, mas também permitia que lhe tocassem o coração, como a mulher siro-fenícia, que foi até ele buscar cura para sua filha (ver Marcos 7.24 a 30).
                Vale dizer ainda que Jesus se permitia ser ajudado financeiramente por algumas mulheres, tais como Maria Madalena, Joana e Susana. Isso mesmo: Jesus viveu cercado por um grupo de mulheres que, desafiando as restrições impostas por sua cultura, seguiu-o por estradas poeirentas, enfrentando o desconforto a fim de sustentá-lo e aos discípulos com bens materiais e, muito provavelmente, com aqueles pequenos toques de carinho e cuidado feminino, oferecendo um pouco de conforto ao Mestre amado (Lc 8:1-3).
                Jesus não dava trela para o que era dito sobre as mulheres naquela época. Olhava para as mulheres sem recorrer às lentes do preconceito ou mesmo das idealizações. Jesus, simplesmente, lia as mulheres como seres humanos criados à imagem e semelhança de Deus. Simples assim.
                Em seu livro A missão da mulher Paul Tournier, famoso psiquiatra cristão suíço, explica que mesmo uma leitura rápida dos evangelhos deixa claro que, em geral, as mulheres compreenderam Jesus melhor e mais depressa que os homens. Só para ilustrar:

Em dois episódios narrados em sequência no evangelho de João, capítulos 3 e 4, Jesus tem um encontro com um homem e uma mulher. Nicodemos era um homem importante, pois fazia parte do sinédrio, o supremo tribunal judeu. Vinha de uma família aristocrática de Jerusalém e possuía grande conhecimento das Escrituras. Ele procurou Jesus à noite, talvez para não ser observado pelos companheiros de sinédrio. Sua saudação a Jesus indica que ele acreditava estar diante de alguém enviado por Deus. No entanto, ficou confuso quando Jesus lhe falou sobre a necessidade de um novo nascimento, um renascimento espiritual. Em João 4, Jesus tem outro encontro individual, dessa vez com uma pessoa cujas referências eram as piores possíveis: pertencia a um povo miscigenado, intensamente desprezado pelos judeus e, além disso, era mulher. Judeu algum que se prezasse falava em público com uma mulher que não fosse de sua família ou permitia que ela se aproximasse dele. Aquela tinha ainda uma vida irregular. Mesmo para os nossos dias, tão liberais, uma mulher que tenha casado cinco vezes e viva com outro homem é considerada, no mínimo, complicada. No tempo de Jesus, era um escândalo. No entanto, foi a ela que Jesus declarou pela primeira vez ser o Messias, Filho de Deus. A mulher não hesitou. Aceitou de braços abertos a notícia e correu a espalhá-la entre todos os que se dispuseram a ouvir.
               
                Só para enfatizar: a primeira pessoa a qual Jesus revelou sua identidade messiânica foi para uma mulher – a mulher samaritana; a primeira testemunha da ressurreição também foi uma mulher – Maria Madalena. Interessante isso!
                Enfim, Jesus levou as mulheres a sério, considerando-as pessoas com quem poderia conversar e capazes de compreender suas revelações sobre Deus. Ele as ensinou, repreendeu quando necessário, nunca se mostrou complacente para com seus erros. Perdoou-lhes os pecados, restaurou-lhes a dignidade humana, ofereceu-lhes seu amor e a visão do lugar que podiam ocupar no reino de Deus. Conforme diz Wanda de Asssumpção: “Ele se mostrou livre de qualquer preconceito, falando às mulheres da mesma forma que falava aos homens, com o mesmo respeito, a mesma confiança, as mesmas exigências e as mesmas promessas”.
                Cito mais uma vez Wanda de Asssumpção, que fala maravilhosamente às mulheres:

Jesus já não se encontra corporalmente entre nós. Não podemos tocar- lhe a orla das vestes. Não podemos derramar-lhe unguento sobre a cabeça, nem lavar-lhe os pés com nossas lágrimas e enxugá-los com nossos cabelos. Não podemos sentir o toque de sua mão em nossas feridas. Não podemos ouvir sua voz nos instruindo, exortando e perdoando. O relacionamento das mulheres com Jesus hoje se dá no plano espiritual.
Mas, por isso mesmo, é ainda mais íntimo. Na pessoa de seu Espírito Santo, ele agora habita dentro de nós. Podemos, sim, derramar diante dele as lágrimas. Podemos sentir sua proteção e seu cuidado como um manto seco e quente colocado sobre nossos ombros quando estamos encharcadas pelas tempestades desta vida, tremendo de medo e apreensão. Podemos sentir sua mão limpando nossas feridas, trazendo cura e alívio à dor das rejeições. Podemos, ainda, ouvir perfeitamente sua voz falar ao coração, se estivermos atentas e em comunhão com ele. Jesus veio para nos libertar das inquietações, tristezas, tribulações, angústias, carências, da necessidade de amor e sentido de vida, oferecendo- nos a água viva do seu amor. Ele quer restaurar a essência da feminilidade que o pecado distorceu e contaminou. Por isso, vem ao nosso encontro onde nos encontramos, muitas vezes atarefadas, tentando suprir nossas necessidades e as de outras pessoas, enquanto nosso próprio coração permanece ressequido e vazio.


                Vivendo num país que pode ser chamado, sem sombra de dúvida, de a terra da injustiça, ainda há muita violência de todos os tipos contra as mulheres. O que lamentamos profundamente. Mas hoje, como cristãos, devemos reassumir nosso compromisso com Deus, na presença de Jesus Cristo, de respeitar a dignidade intrínseca de cada ser humano, especialmente os mais frágeis. Louvamos a Deus pois muitas mudanças para o bem já estão acontecendo. E oramos e lutamos para que a graça de Deus possa contagiar toda a sociedade, proporcionando, assim, um profundo respeito e trato em amabilidade e bondade para com as mulheres. Almejamos pelo dia em que a justiça e o conhecimento da glória de Deus cobrirá a terra, assim como as águas cobrem o mar (Habacuque 2.14). E cremos com todo o coração que veremos a bondade do Senhor na terra dos viventes (Salmo 27.13). Deus as abençoe. Deus nos abençoe. Amém.

quarta-feira, 4 de março de 2015

Coração no Reino

“Pois onde estiver teu tesouro, aí estará também teu coração” (Mateus 6.21)

                Nos Evangelhos, Jesus ensina que o Reino de Deus é como um precioso tesouro que um homem encontrou num campo e que a partir do encontro com aquele luminoso tesouro todo o resto em sua vida obscureceu-se para ganhar nova luz, ou seja, ela abriu mão de tudo que tinha para adquirir aquele campo e assim ter aquele tesouro.
Quando Paulo conta de sua trajetória de vida, diz que: “Sim, de fato também considero todas as coisas como perda, comparadas com a superioridade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, pelo qual perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco, para que possa ganhar a Cristo” (Filipenses 3.8).
Quando Paulo abriu os olhos para o Reino de Deus, tudo o mais perdeu o brilho e a existência na sua completude passou a ser iluminada por Cristo que é a luz da vida.  
                Pelo Reino de Deus, o próprio Cristo “não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo assumindo forma de servo e fazendo-se semelhantes aos homens” (Filipenses 2.6 e 7).
                Quando Mateus, o publicano, se encontrou com Jesus, que é a personificação do Reino de Deus, imediatamente ele deixou a banca dos impostos para seguir o Sumo Mestre por  toda a vida.
                No dia em que a luz do Reino de Deus brilhou na vida de Estevão, a própria morte perdeu seu poder sobre ele. O Reino foi sua opção de viver e morrer.
                Pelo Reino de Deus, Zaqueu se dispôs no coração, diante de Cristo, devolver todo dinheiro – com juros – que tinha adquirido injustamente.
                Por causa dos valores do Reino, João Batista foi decapitado e o discípulo João – o apóstolo do amor – foi exilado na ilha de Patmos.
                Por amor ao Reino de Deus, cristãos foram jogados no coliseu entre as feras.
                Pela visão implantada nele pelo Reino de Deus, Bartolomeu de Las Casas ousou defender o direito humano dos índios em plena época de colonização. 
Pelas verdade do Reino de Deus, Dietrich Bonhoeffer estando nos E.U.A a estudo, se juntou aos irmãos da igreja Confessante na Alemanha para combater o nazismo, acabou preso e enforcado.
                Pela chama que o Reino de Deus acendeu em seu coração, Martin Luther King Junior enfrentou, sem violência, o duro regime de apartheid nos E.U.A. Ele foi assassinado.
                Por causa do Reino de Deus, a missionária Dorothy Mae Stang, lutava pela dignidade de trabalhadores do campo no Pará, enfrentando poderosos fazendeiros. Foi assassinada com 6 tiros.
Por causa do Reino de Deus, cristãos coptas não negaram a Cristo lá no distante país da Líbia, mesmo diante da ferocidade e violência do Estado Islâmico. Eles foram decapitados.
Inúmeros exemplos poderiam ser dados para demonstrar que quando alguém se encontra com o Cristo e abre os olhos e o coração para seu Reino a vida nunca mais é a mesma. Porque tais pessoas são transformadas de dentro pra fora, e mesmo ameaçadas, às vezes vivendo em escassez e até correndo diversos perigos insistem perseverantemente a servir ao seu Senhor que é Cristo. O Reino faz com que Cristo brilhe em nós e para nós como o sol do meio dia, e assim, as demais coisas são reinterpretadas, revistas e reconsideradas a partir dessa luz preciosa.
                Por causa do Reino, pessoas deixam sua terra e sua parentela e vão levar a luz de Cristo a povos distantes. Por causa do Reino, pessoas se tornam generosas, prontas a ajudar quem precisa. Por causa do Reino, pessoas aprendem a amar seus inimigos e orar por quem as persegue. Por causa do Reino, pessoas lutam contra seus próprios vícios e mazelas, tratam com amor quem lhes prejudicou, agem com misericórdia para com os que sofrem, vivem em comunhão com a igreja apesar dos problemas, incoerências e apesar das coisas que não concorda. E como vimos nos exemplos, pelo Reino, as pessoas se entregam totalmente a Causa de Deus a ponto de até morrerem por isso.
Creio que um cristão sério não seria leviano de pensar que seguir a Cristo e vivenciar os valores do Reino não exija um grande preço a pagar, uma renuncia, uma descentralização do ego, um esforço, uma dedicação, um sofrimento, uma vida. Como diz Bonhoeffer, “não poderia ser barato para nós o que para Deus custou tão caro”. E você tem o coração no Reino ou o seu cristianismo é só discurso?! 
               
                                                                                                                                             Laurencie,