quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

JESUS – A LUZ DA VIDA

Eu sou a luz do mundo; quem me seguir jamais andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8.12).
                Fico encantado ao olhar para o texto bíblico e perceber como a ideia da luminosidade acompanha as ações criadoras e salvadoras de Deus no mundo. Gênesis 1.2a e 3 diz assim: “a terra era sem forma e vazia [...]. Disse Deus haja luz. E houve luz”. O texto ensina que quando o universo era caos, Deus por sua Palavra criou o cosmos, ou seja, Ele bondosa e poderosamente criou todas as coisas e as deixou em ordem. Seu ato primeiro foi a criação da luz.
                Num tempo em que o povo de Israel vivia uma crise profunda, sem precedentes, Deus enviou seu servo o profeta Isaías para que proclamasse palavras de esperança. Como arauto do Senhor, ele prega em alto e bom som: “não haverá escuridão, para a terra que estava aflita [...]. O povo que andava em trevas viu uma grande luz sobre os que habitavam na terra da sombra da morte [...]. Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido...” (Isaías 9.1a, 2, 6a). De maneira profética, Isaías anuncia o nascimento de uma criança que há de trazer luz aos que vivem em escuridão plena. Ele diz mais: “o governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9.6b). Que palavras iluminadoras e reconfortantes!
                Quando o evangelista Mateus narra o nascimento de Jesus, ele conta que três sábios do oriente foram guiados por uma estrela até o local onde o Senhor, ainda bebê, estava (Mateus 2. 1 a 12). Note: eles foram guiados por um ponto de luz no céu. Já Lucas conta que alguns pobres pastores foram surpreendidos por uma glória luminosa cheia de esplendor (Lucas 2.9). Na verdade, era um anjo do Senhor que veio comunicar àqueles simples homens o nascimento do Salvador. Lucas ainda descreve o cântico de Zacarias que mostra sua exultação pela ação de Deus na história, por meio de Seu Cristo: “graças à profunda misericórdia do nosso Deus, pela qual a aurora do alto nos visitará, para iluminar os que estão nas trevas e na sombra da morte, a fim de nos guiar nossos pés no caminho da paz” (Lucas 1.78 e 79). 
                Todos e esses textos e muitos outros que poderia citar mostram de maneira unânime que quando Deus age, criando ou salvando, Ele o faz através da luminosidade do seu Ser que se manifesta na criação de astros luminosos (no caso de Gênesis), ou se manifesta na Sua atuação poderosa na história trazendo luz a quem está nas trevas e na sombra da morte. O próprio Jesus, que representa a maior manifestação de Deus na história, autodenomina-se como a luz do mundo, e quem se permitir ser iluminado por Ele, terá a luz da vida.
                Nosso mundo por conta do pecado é confuso e triste, deixa as pessoas sem direção. Muitas delas trilham pela jornada da existência desesperançadas, frustradas, desanimadas, vivendo uma vida sem significado, verdadeiramente, em trevas. Entendo que não tem sentido em se viver assim, visto que Jesus é a luz do mundo. Ele veio do Pai para iluminar a cada ser humano, isso quer dizer que Ele deseja dar direção as pessoas sem rumo, almeja dar esperança aos desesperançados, anseia animar os desanimados, e pretende dar vida significativa para os frustrados, enfim, Ele quer salvar a cada um de uma vida medíocre e de um futuro aterrorizante.
                Hoje, celebramos o Natal de Jesus Cristo, e celebrar tamanho acontecimento nada mais é do que relembrar o coração que Deus mandou seu Filho ao mundo para iluminar os nossos passos, a fim de que caminhemos rumo ao centro da Sua vontade, que é boa, perfeita e agradável.
                Por isso, neste ano comemore o Natal de Jesus Cristo lembrando que Ele é a verdadeira luz que ilumina a vida, ou seja, Ele tem poder para iluminar todas as suas questões existenciais. E se lembre ainda que Ele chamou seus discípulos para participar da sua luz, iluminando, através de atos que demonstrem seu caráter e sua graça, o caminho das pessoas (veja Mateus 5.14 e 16). Desafio-o, hoje, a fazer da sua fé uma missão, a missão de refletir a luz de Jesus na vida das pessoas que o cercam. Creio que não existe melhor maneira de celebrar o Natal. Que Deus, o Pai das luzes, ajude-o.                   
                                                                                                                                                             Pr. Laurencie

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal pé no chão

[...] e ela teve seu filho primogênito; envolveu-o em panos e o colocou em uma manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria”. (Lc 2.7)
                Quem não fica encantado com a cidade na época do Natal?! Luzes, pinheiros, mais luzes, mesas fartas, troca de presentes etc... A priori não há nenhum problema nisso. Mas será que diante da onda de consumismo que se apresenta em geral nessa época não corremos o risco de perder o foco Naquele que é a razão e o sentido do Natal? O que a bíblia nos ensina sobre isso?
                Atentando para a Palavra Divina compreendemos que o Natal – o nascimento de Jesus – trata sobre o grande Mistério da encarnação. Assim sendo, no Natal podemos lembrar ao nosso coração que Deus bondosa e graciosamente se fez homem. Nas palavras do apóstolo do amor: “O Verbo se fez carne”. Mais misteriosa ainda é a situação como Deus decidiu enviar seu Filho, o Verbo: Jesus nasceu milagrosamente de uma jovem virgem, a saber, Maria que era noiva de um tal José da tribo de Judá, ambos, por sinal, paupérrimos. Foi assim que se deu o nascimento de nosso Senhor – em absoluta simplicidade e pobreza numa cidade sem muita importância, num lugar reservado para os animais. O que isso tem a nos dizer?
                      É evidente que o Natal não tem nada a ver com o consumismo, não tem a ver com o poder de compra que uma família tem, não tem a ver com os shoppings lotados, não tem a ver com o bom velhinho, nem com seus duendes, não, nada disso. Natal não está relacionado ao “ter” ou “possuir”, está sim, ligado ao “ser”. Especialmente, ser para Deus. Sendo e existindo para Deus compreendemos que no verdadeiro Natal, Ele, o Magnífico, na pessoa de seu Filho, doa-se, humilha-se, esvazia-se, empobrece-se, coloca-se deliberada e superlativamente em estado de sofrimento.
                O modo como Deus vem e age em Jesus cria para nós um paradigma, um modelo de ser e existir – Cristo, o Filho do Deus Altíssimo, veio em pobreza para que nós fossemos ricos em alegria, compaixão e generosidade. No Natal devemos compreender que Deus nos amou de tal maneira que nos deu o seu Filho. Perceba que o Natal marca um ato supremo de doação de Deus.
                Isso posto, esclarecemos: Natal – pé no chão é acolher o grande amor de Deus manifestado em seu Filho Jesus Cristo e se colocar a Sua disposição para demonstrar em atos e palavras tão grande e genuíno amor. É não desprezar ou fazer ouvido moco aos que sofrem e são oprimidos todos os dias pela dura realidade. É viver e celebrar a simplicidade e a humildade. É doar-se ao Deus de graça e investir existencialmente na Sua causa de restaurar e trazer esperança aos homens e mulheres.      
                Por isso, desafio-o, neste ano de 2010, a celebrar um Natal – pé no chão. Comemore seu Natal assim: agradeça a Deus por Jesus e demonstre sua gratidão através de atos de bondade que expressem alegria, compaixão e generosidade. Quem celebra o Natal – pé no chão é porque está verdadeiramente com a cabeça e o coração em Cristo. Pense nisso!
                                                                                                                                                             Pr. Laurencie

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu, um eterno mendigo

Sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim” (Salmo 40.17a)
Certamente a palavra mendigo é uma palavra extremamente forte e causa má impressão e traz várias imagens negativas àquele que a ouve. E dificilmente alguém ousaria usar tal substantivo para se referir a si mesmo. Segundo a Wikipédia – a enciclopédia livre: Mendigo ou mendicante é “o indivíduo que vive em extrema carência material, não podendo garantir a sua sobrevivência com meios próprios. Tal situação de indigência material força o indivíduo a viver na rua, perambulando de um local a outro, recebendo o adjetivo de vagabundo, ou seja, aquele que vaga, que tem uma vida errante. O estado de indigência ou mendicância é um dos mais graves dentre as diversas gradações da pobreza material”. Enquanto que sociologicamente falando a palavra mendigo tem conotação pejorativa, quando pensamos na relação do ser humano com o Deus de toda graça, isto é, teologicamente, tal palavra cai como uma luva.

Certa vez o Senhor Deus disse ao mendigo Jó: “quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe debaixo do céu é meu” (Jó 41.11). O apóstolo Paulo expressou a seguinte doxologia: “quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória eternamente. Amém” (Rm 11.35 e 36).  Paulo sabia bem do seu estado de mendicância diante de Deus, ele mesmo disse: “Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.[...]Quem se gloriar, glorie-se no Senhor (I Co 1.28, 29 e 31). Perceba que a palavra mendigo expressa bem o que Paulo disse, afinal, o mendigo é insignificante, é desprezado e é considerado e tratado como nada. Mas não para Deus, não é?! Afinal, foi a esse ou a esses que Ele, misteriosamente, escolheu. 

Essa incapacidade humana de dar, ou merecer ou fazer coisas para Deus, por si mesmo, podemos dar o nome de mendicância espiritual. Um mendigo só comerá se alguém o der, e só usará as roupas que ganhar, e carecerá diária e constantemente de favores e atos de misericórdia. O mesmo vale para cada um de nós diante de Deus, visto que “ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). João, o Batista, sem ressalvas, compreendeu seu estado de mendigo  e sua indignidade diante daquele que se chama Salvador – “não sou digno nem de carregar suas sandálias” (Mt 3.11) e sua postura e oração foi a de um mendigo espiritual: “convém que ele, o Cristo, cresça e eu diminua” (Jo 3.30).

É preciso aceitar, à luz dos ensinamentos da Palavra, que eu sou um eterno mendigo diante de Deus, sou pequeno e fraco, pobre e necessitado, não tenho nada a oferecer, não há razões e nem sentido em sentir orgulho por qualquer coisa que seja, careço diária e assiduamente dos favores e dos atos de misericórdia e graça do céu.

A um mendigo espiritual por definição e convicção cabe bem a humildade, a contrição, a simplicidade no viver, a solidariedade com os outros mendigos amigos e companheiros de caminhada. Cabe ainda a ausência de julgamento e pré-conceitos em relação aos próximos que sucumbiram diante da complexidade da vida. Os mendigos não criam estereótipos de outrem, pois não há nenhum mendigo que não tenha culpa no cartório, uma vez que “todos pecaram e são carentes” (Rm 3.23a). Tenho boas notícias aos mendigos espirituais, boas novas de alegria e esperança, pois “assim diz o Alto e Sublime, que habita na eternidade e cujo o nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o contrito de coração e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes e o coração dos contritos” (Is 57.14 e 15). Os espiritualmente mendicantes não tem nada a oferecer, são desprezados e ridicularizados no mundo, contudo, é com eles e neles que Deus habita.

Lembre-se que aceitação de nossa mendicância em relação a Deus não nos menospreza ou nos humilha, mas nos eleva, pois nos traz à consciência o fato de que a vida, em todas as suas dimensões, é fruto da graça. É fruto da pré- disposição divina em agir com bondade e misericórdia para conosco, os mendicantes. Foi João que disse: “pois todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça” (Jo 1.16). Precisamos admitir de uma vez por todas: “nossas insignificantes obras não nos dão o direito de regatear com Deus. Tudo depende do seu bom prazer” (Brennan Manning).

Encerro parafraseando Jesus: “Superlativamente felizes são os mendigos espirituais, pois deles, somente deles, é o reino dos céus” (Mt 5.3).
                                                                                                              Pr. Laurencie   
  

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Uma carta ao meu irmão Fulano de Tal

           Olá querido irmão Fulano de Tal. Tenho observado seu semblante nos últimos dias, percebo com tristeza e preocupação seu abatimento. Eu tenho visto que seu ânimo não é mais o mesmo. Aquela empolgação parece que já não existe mais. Se eu fosse como os amigos de Jó, diria que você está com algum tipo de pecado nas costas, mas eu não sou como eles, não vejo a vida à luz do pecado somente, vejo-a também e principalmente à luz da graça divina. E a graça de Deus, meu caro, é aquilo que há de melhor no cristianismo. Na verdade, a graça é o coração do cristianismo. Por isso quando olho para alguém, independentemente de quem seja, faço isso sob a perspectiva da graça, por isso me junto a você e me solidarizo com sua dor e tempo de tristeza, sem fazer pré-julgamentos.

            O que você está vivenciando neste momento, meu amigo, é o que alguns estudiosos chamam de esgotamento espiritual. Devido a isso que sua fé está um tanto quanto cansada, desmotivada, desanimada e entristecida. Vou ser realista com você, não existem fórmulas mágicas para vencer o esgotamento, todavia, existem caminhos que poderão lhe auxiliar a superar este tempo de crise. Aliás, vale dizer que crise, para aquele que confia em Deus, é uma oportunidade de crescimento.
            Olha, antes de compartilhar sobre alguns caminhos que poderão lhe ajudar a superar o esgotamento espiritual, quero pensar com você em algumas hipóteses sobre o que poderia ter causado isso. Devemos considerar que a vida é bastante complexa. É dialética – uma mistura de tristezas e alegrias, sonhos e decepções. Às vezes o sofrimento vem em doses fortes e temos que tomá-lo, meu caro. Talvez seja isso que tenha propiciado o surgimento do seu esgotamento espiritual: as desilusões da vida. Você pode ter sido engolido pelas circunstâncias difíceis da existência. Sabe Fulano de Tal pra você que é evangélico, tenho outra hipótese ainda: as estruturas religiosas, em muitos casos, acabam trazendo decepção sobre decepção, e daí surge o esgotamento. Em muitos casos, as estruturas religiosas tornam as boas notícias de Jesus Cristo em péssimas notícias, tornam a graça em longas listas de regras e regras, tornam a adoração legítima em religiosidade rotineira. Temos que admitir, meu caro, que sua própria religiosidade e a religiosidade de quem está próximo a você, podem ter aberto caminho para que o esgotamento espiritual chegasse. Por último, considero a hipótese ainda de que talvez você tenha tratado sua espiritualidade com displicência e negligência. Talvez você tenha achado que ir se encontrar com a igreja uma vez por semana, e ouvir alguém falar sobre a Bíblia no domingo fosse suficiente para produzir maturidade cristã. Mas agora, você percebe na própria pele que as coisas não são bem assim. Acredito que este tempo de esgotamento espiritual é uma excelente oportunidade para você quebrar paradigmas.
            Como disse, não existem fórmulas mágicas para vencer o esgotamento, mas existem caminhos de solução. Creio que o primeiro passo para enfrentar isso é você olhar com sinceridade para si mesmo e admitir esse problema. Não se esqueça de orar bastante, afinal oração significa dependência de Deus. Leia bons livros sobre o assunto para ver como outras pessoas passaram e enfrentaram tempos assim. Converse bastante com seus amigos, peça ajuda. Não sofra sozinho. Lembre-se que apesar da religião ser uma força que em muitos casos traz malefícios, existem muitas pessoas que são de Deus mesmo e estão perto da gente e estão profundamente interessadas em nossas vitórias. Força amigo. O Senhor é contigo.   De seu amigo e irmão: Pastor Laurencie

domingo, 26 de setembro de 2010

Seu nome é Salvador



            Com certeza, uma das afirmações mais reconfortantes e esperançosas do Novo Testamento está na carta aos Hebreus 13.8 que diz: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eternamente”. Saber que Jesus é hoje o mesmo que pisou por esta terra dois mil anos atrás enche o coração de alegria e de paz, pois se ele é o mesmo, sua missão também é a mesma, e ele próprio define sua missão assim: “eu vim buscar e salvar o que se havia perdido” (Lucas 19.10). Não há como negar, Jesus, o Cristo, está em busca daqueles que estão se perdendo, afinal, ele é o mesmo ontem, hoje e sempre.
            A bíblia deixa bem claro quem são aqueles que estão se perdendo: são os que estão mergulhados no pecado, ignoram a vontade divina e vivem sua vida como se fosse conquistada por sua própria força. São os que zombam de Deus achando que são seres independentes e autônomos do Senhor e constroem sua história ignorando o fato que Deus existe e se importa com tudo o que acontece por aqui. São os que vivem no egocentrismo achando que o universo gira em torno de sua própria cabeça, e por isso não conseguem ver o mundo sofredor com um olhar caridoso, e muito menos, conseguem se compadecer. São os que se prostraram e se prostram todos os dias diante de ídolos inventados por sua própria mente, tais como dinheiro, poder, fama, sucesso, sexo, drogas, prazer desenfreado e sacrificam sua existência no altar da mentira. Os que estão se perdendo são os que disseram não para o Cristo de Deus e disseram sim para si mesmos, para seus pecados e seus caminhos desencaminhados. São os orgulhosos que dizem a si mesmos: “ó alma – descansa, come, bebe e alegra-te” (Lucas 12.19) pois cheguei no auge da vida com minha própria força e sabedoria, todavia não atentaram para as palavras do Mestre: “a vida de um homem não consiste naquilo que ele possui” (Lucas 12.15). Os que estão se perdendo são os que se conformaram com o mundo, aceitaram a sua própria desumanização ou coisificação, relativizaram o absoluto e ‘absolutizaram’ o relativo. Dão importância demasiada ao que não é importante, e rejeitam o essencial, a saber: Deus. Os que estão se perdendo gastam sua vida com a vaidade, com aquilo que é palha e neblina, coisas tão passageiras quanto um piscar de olhos. A esses o Salvador quer salvar, e lhes convida: “se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mateus 16.24).
             O mundo construído sobre paradigmas rebeldes em relação a vontade de Deus só produz dor, tristeza e sofrimento. O produto final dessa conta é o caos que vivemos e vemos todos os dias: mundo individualista, miséria, injustiça, epidemia de drogas, violência doméstica, mortes prematuras, religiões enganadoras e opressoras, a política feita para o bem próprio e não para o bem comum, famílias destruídas e sem referencial e por aí vai. Diante de tal quadro, percebe-se o cansaço das pessoas, o medo, a angústia, a sobrecarga de viver a vida num mundo tão mau. A essas pessoas o Salvador quer salvar. Ele diz: “vinde a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu os aliviarei. [...] aprendei de mim que sou manso e humilde de coração; e acharão descanso para a sua alma” (Mateus 11.28 e 29).
            Uma condição sine qua non para a salvação é o compreender-se perdido, e caminhar em direção àquele que é o caminho, a verdade e a vida (João 14.6), ou seja, Jesus Cristo, o Filho de Deus.
            Saiba que Cristo Jesus, aquele que é o mesmo ontem, hoje e eternamente quer salvar a sua história da tolice de viver a vida em vão. Quer salvar sua existência da irrelevância. Quer salvar sua vida do lamaçal do pecado e do egoísmo e lhe firmar os pés na rocha a fim de que usufrua a vida eterna que o Pai dá, por meio do Filho e através do Espírito Santo. Pense e responda: se Jesus é o Salvador, e se ele está profundamente interessado em sua vida, por quê perder-se?! Saiba que hoje é o tempo de abrir a porta do coração para aquele que é o mesmo ontem, hoje e eternamente. Faça isso! E que assim seja.
                                                                  Pr. Laurencie


terça-feira, 7 de setembro de 2010

Dependência ou morte!

“Bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos Céus”. (Mateus 5.3)
            
         Terça-feira, dia 07 de setembro, será comemorada mais uma vez a independência do Brasil. Quando estávamos na escola aprendemos que esse ato foi feito por D. Pedro I, às margens do rio Ipiranga, com o famoso grito: “Independência ou morte”. Na verdade, quem tem um pouco de senso crítico, sabe que as coisas não foram bem assim, por duas razões pelo menos: primeiro que a independência não foi um ato isolado de D. Pedro I, mas sim um acontecimento que integra o processo de crise do Antigo Sistema Colonial feito pela aristocracia rural do país por interesses econômicos, obviamente. Em segundo lugar, a independência restringiu-se a esfera política não alterando em nada a realidade sócio-econômica, que se manteve com as mesmas características do período colonial. A grande verdade é que a independência não marcou nenhuma ruptura com o processo de nossa história colonial. As bases sócio-econômicas (trabalho escravo, monocultura e latifúndio), que representavam a manutenção dos privilégios aristocráticos, permaneceram inalteradas, ou seja, os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. 
 Isso mostra que a forma como a independência do Brasil é-nos contada é uma grande farsa, é uma mentira. Só para termos a impressão de que algo foi feito de maneira heróica por aqui. Doce ilusão.
            Na verdade, usei esse assunto da independência do Brasil como pretexto para dizer que na vida cristã a palavra independência não existe, pelo menos não deveria existir. Foi essa a proposta que Serpente fez para Adão e Eva no Edén: “comam do fruto de conhecimento do bem e do mal e dêem seu grito de independência de Deus”. Isso foi uma grande mentira, tal qual a forma como a independência do Brasil é-nos ensinada.
            A bíblia ensina que o ser humano entregue a si mesmo – independente – só produz a mentira, a injustiça, a opressão, a ganância, a violência, enfim, o caos. Jesus, nosso Senhor, mostra-nos outro caminho, Ele brada o grito da dependência: “bem-aventurados os pobres em espírito, pois deles é o reino dos Céus”, em outras palavras, o Mestre está ensinando que a verdadeira felicidade, a vida plena, acontecerá somente na dependência absoluta de Deus.
            Os pobres em espírito são aqueles que sabem que nada têm a oferecer a Deus, por isso confiam desesperadamente na graça divina, são aqueles sobrecarregados que aprenderam a descansar à sombra do Senhor, são aqueles que possuem joelhos vacilantes e fracos e tem plena consciência que não se bastam a si mesmos de forma alguma, são aqueles que olham para si mesmos com sinceridade e dizem: “sou um pecador e careço da glória de Deus em minha vida”, são aqueles que sabem que a vida entregue a si mesma, na própria força e na independência do ser será um grande desapontamento para Deus. Jesus, como sempre, tinha razão: Felizes aqueles que nada têm, mas encontraram tudo no Deus gracioso.      
             Um sinônimo para a palavra independência é liberdade, e apesar do Brasil ter soberania em seus territórios, ser autônomo em suas leis, está muito longe de ser um país livre, o que reina por aqui, na verdade, é a escravidão em vários sentidos. O grito de D. Pedro I, possivelmente nunca existiu, se existiu, foi só um grito pomposo e demagógico para esconder as verdades. Já o grito de Cristo é a mais pura verdade: “Dependência (de Deus) ou morte”.   Pr. Laurencie


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Libertação ou escravização?!




Não há como negar: a religião é uma coisa perigosa. Quem dera toda religião fosse como aquela descrita por Tiago: “A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo” (Tg 1.27). Mas a realidade está bem distante disso. Lamentável. A grande questão é que a religião deveria apontar para Deus, mostrando assim, o caminho da salvação, da cura das feridas, do consolo para o coração, contudo, em muitos casos, ela se coloca no lugar de Deus; dessa forma, não mostra ou ensina o caminho da salvação, mas quer ser a própria salvação, não aponta para Aquele que pode tratar das feridas da alma, mas quer ser a própria cura. Qual a consequência disso?! Em vez do ser humano se tornar livre pelo poder e graça de DEUS, acaba sendo escravizado por conta dos descaminhos da religião.  
 Os cultos chamados cultos de libertação são um claro exemplo disso. Você já reparou que tais cultos acontecem toda semana? Você sabia que geralmente são as mesmas pessoas que frequentam a esses cultos? Eu fico me perguntando: Ora, será que a libertação que provém de DEUS dura só uma semana? Por que as pessoas precisam ser libertas em toda semana? Será que é possível ter hora e dia marcados para a libertação? Será que a libertação acontece somente no espaço do templo? Entenda que esses chamados cultos de libertação são, na verdade, puro marketing com intuito de trazer as pessoas a igreja. Elas acabam por ficar escravas disso, tão dependentes como qualquer tipo de viciado. Ah religião, religião que endurece os corações, traz altivez a alma e aliena da realidade! Triste veredicto esse.
                JESUS foi extremamente rígido com os religiosos de sua época, afinal, eles estavam completamente cegos pelo tradicionalismo de sua religião. Tornaram-se, pela força da religião, escravos e escravizadores. O SENHOR disse: “os escribas e fariseus [...] atam fardos pesados e difíceis de carregar e os colocam sobre os ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los” (Mt 23. 2 e 4). É nisso que uma religião que não considera a vontade de DEUS se torna: um verdadeiro fardo, um peso, uma enganação, uma falsa promessa de vida, um blefe, uma alienação, enfim, escravização.
                Você consegue perceber que isso não tem nada a ver com JESUS? Como poderia o INVENTOR DA LIBERDADE escravizar as pessoas em regras, programas, supostos cultos de libertação, usos e costumes? Paulo disse: “para a liberdade que CRISTO nos libertou. Portanto, permanecei firmes e não vos sujeiteis novamente a um jugo de escravidão” (Gl 5.1).     
                Portanto, fique atento com as coisas que ouve por aí. Lembre ao seu coração que CRISTO nos vocacionou para a liberdade. Pra quem se rende a CRISTO e obedece aos seus mandamentos a liberdade se torna companheira de jornada. Isso é uma prerrogativa da obra de CRISTO na vida de uma pessoa, e não de programas de marqueteiros religiosos.
                Não fique, então, muito feliz consigo mesmo por ser religioso, pois isso pode não significar muita coisa, pelo menos não diante de DEUS. Vale dizer que o SENHOR não cabe dentro de nenhuma religião, mas por bondade, cabe dentro do coração. Encerro citando palavras de um pastor amigo meu: “Você hoje terá um dia inteiro para pensar e decidir sobre a sua liberdade. Liberdade de estar na presença de Deus, de dar prioridade à vida, vivenciar valores, praticar a misericórdia, amar o amor ou amar o amar. Ser livre para ser do Senhor, ser do Senhor para ser livre”. Pense nisso!                                   
                                                                                 Pr. Laurencie




segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Compreendendo o perdão

A teologia é uma linguagem humana sobre Deus com intuito de lidar com as perguntas que a vida nos faz. Por exemplo: como viver uma vida plena? Como enfrentar o sofrimento? Como lutar e clamar por justiça? Como superar a desumanização que o mundo nos impõe? Como ser feliz sem seguir os caminhos da fama, poder e riqueza? Sintetizando: quando fazemos teologia, quando pensamos sobre Deus e Sua vontade, estamos em busca de caminhos que tornem a vida melhor, mais alegre, mais viva, mais justa, mais bela, enfim, mais vida.
Acredito que é impossível discutir sobre uma vida plena, sem passar pelo tema do perdão, simplesmente pelo fato do perdão tratar das coisas que estão no passado. É preciso aceitar: lidar com o passado é complicado. Para alguns, ele é um tipo de bicho de sete cabeças que os persegue assustadoramente, e só traz sofrimento, tristezas sem fim. Assim sendo, a vida se torna difícil de ser vivida no presente, que na verdade, é o único lugar que pode ser vivida, mas nesse caso, sem a beleza e sem a vivacidade que poderia ter. O que era pra ser plenitude, ou pelo menos a busca dela, acaba se tornando um peso por conta dos fatos que estão cristalizados no passado. Kyrie Eleisson! 
               Quando digo que os fatos do passado estão cristalizados, isso significa que eles não podem ser modificados, tocados, mexidos. Não mesmo, sem chance. Muitos se tivessem uma simples oportunidade para voltar e mudar as coisas que estão lá atrás, com certeza, iriam correndo desesperadamente. Contudo, precisamos ser realistas: isso é impossível. Então nos surge uma pergunta: se não podemos voltar no passado para mudar as coisas que aconteceram lá, como lidaremos com o passado? A resposta é simples, mas poderosa: perdão.  
              É preciso ouvir hoje a resposta que o Mestre deu ao questionamento de Pedro há dois mil anos atrás: “Senhor, quantas vezes deverei perdoar meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus disse: Não sete, mas setenta vezes sete”. Eu ouso dizer que o perdão não é só para o meu irmão ou meu próximo, mas para mim também, ou seja, eu preciso me perdoar pelos erros que cometi no passado. Quantas vezes? Setenta vezes sete, em outras palavras, quantas vezes forem necessárias.
               Há muitas pessoas que estão com suas “artérias da espiritualidade” entupidas porque não perdoam os outros e nem a si mesmas, por isso a vida tem se tornado intragável. Minha palavra é: ouse perdoar, libere perdão, doe perdão e peça perdão também. Limpe, assim, seu coração dos ranços da vida. Essa atitude há de trazer luz e paz sobre o seu caminhar. Este é o jeito divino de lidar com o passado: perdoando.  Pode acreditar, é simples assim mesmo.
               Nós somos imagem e semelhança de Deus, portanto, realizamo-nos somente vivendo à luz dos anseios deste Deus. Então: se Ele é perdoador, também devo ser e isso, com certeza, há de trazer Vida em minha vida. Este é o caminho da graça e da vida abundante. É este caminho que eu vou seguir, hoje e sempre. Amém.                                                                                                                                                                               Pastor Laurencie     

segunda-feira, 26 de julho de 2010

TEOLOGANDO NO CHÃO DA VIDA





Podemos chamar de Teologia todo discurso, pensamento, conceituação, percepção sobre Deus. Toda pessoa tem uma teologia, isto é, tem uma forma de compreender a Deus. E vale ressaltar que o modo como uma pessoa compreende Deus é determinante no modo desta pessoa lidar com sua vida. Vale dizer ainda que existem teologias boas e teologias péssimas. Como diz um pastor conhecido meu: “teologia é igual a comida: se for boa, faz muito bem, mas se estiver estragada, pode até matar”. Como a teologia é tão importante na jornada da vida, vale a pena pensar com carinho nela.  
Para um cristão verdadeiro, só é possível fazer teologia a partir da vida, morte e ressurreição de Jesus de Nazaré, ou seja, para o cristão o que importa é a teologia cristã. Assim sendo, o modo como um cristão compreende Deus é determinado essencialmente por aquilo que Jesus revelou sobre Deus. O próprio Salvador disse: “quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 14.9). Por isso afirmo com toda convicção que uma teologia genuinamente cristã só pode ser feita sob a perspectiva da graça divina que Jesus revelou de maneira maravilhosa que as palavras são insuficientes para expressá-la.  
É importante dizer que a teologia é sempre uma construção humana, e por isso está sujeita a erros. Por isso deve ser feita com toda humildade, atentando sempre e com profundidade para a Palavra de Deus que é a fonte segura de revelação sobre Cristo, e por sua vez, sobre o Deus-Abba Pai.
 A minha teologia foi sendo feita a partir do meu encontro com Cristo, através da exposição da Sua Palavra a mim por meus pais e alguns amigos que caminharam e caminham comigo pela vida e também por alguns autores tais como Philip Yansey, Eugene Peterson, Martinho Lutero, Dietrich Bonhoeffer, Ed René Kivitz, Ricardo Gondin, Carlos Queiroz, René Padilha, Leonardo Boff, Carlos Mesters, Rubem Alves, Robinson Cavalcante, Julio Zabatiero e muitos outros que convidei, por meio da leitura, para serem companheiros da minha jornada.  A Palavra de Deus, meus amigos e esses autores me ajudaram a compreender que quando eu me entrego a Deus, Ele me manda de volta para os outros, isto é: para as pessoas, meus amigos, colegas, vizinhos, irmãos e irmãs, minha esposa, enfim, para o meu próximo. Em outras palavras, aprendi que não existe relacionamento unilateral com Deus. Ao me comprometer com Deus, estou concomitantemente me comprometendo com as pessoas. Amar a Deus implica necessariamente em amar o próximo.
Assim, afirmo que minha teologia é construída no chão da vida, na realidade, no contexto do cotidiano. Faço teologia, discurso e penso sobre Deus sem me esquecer dos pátios das escolas e das fábricas, dos corredores dos hospitais, daqueles que sofrem, daqueles que choram e são injustiçados todos os dias neste mundo mau. Minha teologia é fundamentada na graça de Deus manifestada plenamente em Cristo. Sem a graça nada faz sentido para mim. Assim, assumo o compromisso de me engajar na luta por um mundo melhor, porque acredito que a vida abundante não pode ser empurrada somente para depois da morte. Assumo o compromisso, pela graça, de ser misericordioso e perdoador porque Deus o é. Assumo o compromisso de abandonar o moralismo, formalismo, tradicionalismo, tudo aquilo que me impede de ver a Deus como Ele é. Este é o caminho que vou seguir, hoje e sempre.
                                                                                                                                Pastor Laurencie     

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Encontrando Deus numa sociedade em pedaços

"Naquela ocasião Jesus disse: "Eu te louvo, Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios e cultos, e as revelaste aos pequeninos. Sim, Pai, pois assim foi do teu agrado. "Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. Ninguém conhece o Filho a não ser o Pai, e ninguém conhece o Pai a não ser o Filho e aqueles a quem o Filho o quiser revelar. "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas". (Mateus 11: 25 A 29) 


Introdução
Hoje gostaria de refletir um pouco sobre a nossa sociedade à luz da palavra de Deus. Mas antes disso precisamos definir alguns termos. O que queremos dizer com “sociedade em pedaços?” É claro que quando pensamos a sociedade é possível fazer uma leitura sobre várias perspectivas. Por exemplo: uma leitura sociológica. Tenho aqui alguns dados só para se ter uma ideia. Os 20% mais ricos da população mundial consomem 93% de todos os produtos e serviços, enquanto os 20% mais pobres consomem apenas 1,4%. A diferença entre os 20% mais ricos e os 20% mais pobres do mundo cresceu muito nos últimos anos. Os 225 indivíduos mais ricos do mundo, dos quais 60 são norte-americanos, têm uma riqueza combinada de mais de um trilhão de dólares, igual à renda anual de 47% da população mais pobre do mundo. A conseqüência disso é que 850 milhões de pessoas passam sistematicamente fome e sobrevivem na insegurança alimentar, um terços destas não chegam aos 40 anos. Se pensarmos no Brasil, os dados são dramáticos também. Só mais um dado: 55,6 milhões de brasileiros vivem com menos de cem reais por mês. Quais são características bem marcantes da sociedade brasileira? Desemprego, violência, drogas, anarquia, rebeldia, família destruídas, massificação da cultura, uma sociedade, de fato, em pedaços, esmigalhada por suas próprias escolhas. O que acabamos de fazer é uma leitura um tanto quanto superficial através das lentes da sociologia. Fizemos uma rápida leitura da nossa sociedade através da sociologia e vimos que a coisa não é nada boa. Mas o que a teologia diz sobre a sociedade? E é aí que vamos centrar toda a nossa atenção.

Quando João escreveu sobre o mundo lá no final do primeiro século, ele disse assim: “Sabemos que somos de Deus e que o mundo todo jaz no maligno” (I Jo 5.19), o evangelista estava dizendo que o mundo está sob a forte influência do maligno, o mundo, com seus sistemas, com suas opções, com sua mensagem jaz no maligno. Paulo ainda diz “que o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos para que não vejam a luz do evangelho da glória de Cristo” (II Co 4.4). A bíblia diz o mundo está morto no maligno e está cego, está incapaz de ver o evangelho de Cristo. Está impossibilitado de sair do seu estado de corrupção e tristeza. Está impossibilitado de sair do seu estado de morte. Quais as características dessas pessoas que fazem parte desse mundo? Pense nas características de nosso tempo: depressão, tristeza, amargura, desilusão, busca acelerada na satisfação imediata (teologia da prosperidade), suicídio em alto número, alcoólatras em alto número, viciados em drogas como cocaína (alto número). Mercantilização de tudo. A marginalidade de milhões, miséria humilhante, ganância insaciável. A vida que se torna um peso quase que insuportável. Esta é a sociedade da qual fazemos parte. A característica do mundo na época que Jesus esteve por aqui, não era muito diferente do nosso tempo. Pois o homem pouco evoluiu eticamente. É possível encontrar Deus numa sociedade em pedaços? Ou será que vamos nos tornar Deístas? Se é possível, onde encontrá-lo e como?

Num primeiro momento Deus surge como ausência
Por mais paradoxal que isso seja, num primeiro momento Deus se cala, Deus se esconde. Jesus diz: “Eu te louvo o Pai, Senhor dos céus e da terra, porque escondeste estas coisas dos sábios”. (Mt 11.25). Do que Jesus está falando? Lucas 10.21 e 22 nos esclarece. Nesse contexto os discípulos estão maravilhados porque o reino está sendo pregado, e ele está se manifestando com poder a ponto dos demônios se submeter aos discípulos. Os apóstolos chegam estupefatos diante de Jesus porque o reino de Deus está superando as deficiências de uma terra de ninguém, onde as pessoas eram consideradas ninguém e diante da força do reino até as potestades se curvam. E Jesus se alegra em Deus porque ele escondeu essas coisas dos grandes, dos poderosos, dos sábios. No contexto de Mateus, cidades rejeitam a Jesus de Nazaré, cidades se mostram incrédulas, hostis, ao Senhor, mas alguns, chamados de pequeninos, de crianças, se abrem para Cristo. Jesus está dizendo que é impossível encontrar Deus na sabedoria humana, através do seu poder, pois Deus não é um objeto do mundo. Deus, é como diz o teólogo da Karl Barth, o “Totalmente outro”, o que é absolutamente transcendente, o que Paulo diz a Timóteo “Aquele que habita em luz inacessível”. Deus permite ao ser humano ser livre e fazer suas opções na história, o mundo é fruto dessas escolhas. Deus se mostra ausente.


Deus se revela
O texto não acaba no verso 25. Jesus afirma com convicção. Deus se escondeu. Mas se revelou aos pequeninos, as criancinhas, aos que não tinham entendimento, aos que eram desprezados, aos esquecidos, aos símplices. O texto está dizendo que cidades inteiras rejeitaram a mensagem do evangelho e rejeitaram a Jesus, mas Deus agiu poderosamente sobre os pequeninos. Aqueles que perceberam Jesus, aqueles que olharam para ele e compreenderam que a vida não podia acontecer longe dele, os pequeninos, os que não entendem de nada. Os que estão fora do páreo, os que são carta fora do baralho, os que ninguém dá valor. Deus se mostrou a estes.

Ilustração
Uma criança quando pronuncia Pai ou Mãe, ela não sabe o que isso significa, ela não consegue definir o sentido da palavra pai ou palavra mãe, ela só sabe para onde tem que correr, ela sabe para os braços de quem tem que ir. É disso que Jesus está falando, só vê Deus no mundo, aqueles que sabem para os braços de quem tem que correr, elas não sabem definir Deus, elas se recusam a isso, elas não querem compreendê-lo, só querem vivenciá-lo, experimentá-lo, senti-lo, descobri-lo mesmo numa sociedade em pedaços. Esses são os pequeninos.


Deus surge como uma nova possibilidade, como um contra-mundun, como esperança
As sociedades na antiguidade, na modernidade, na pós-modernidade têm propiciado a criação de um tipo de vida, de um tipo de história, de um tipo de escolha, um tipo de caminhada, um tipo de opção que não é a opção de Deus. Este mundo assim, não é da vontade de Deus, não está em sintonia e harmonia com os princípios do reino de Deus. Por isso que Jesus ensina, independente das circunstâncias, do momento, entre no quarto, feche a porta e clame ao Pai, para que o reino venha. Este mundo produz gente machucada, perdida, em pedaços, aos cacos, sobrecarregadas, cansadas. E daí Jesus surge como uma nova possibilidade, como uma nova esperança. O mundo contribuiu para que você vivesse no caos, eu, entretanto, convido-os, venham até a mim. Assim como vocês estão. Sobrecarregados, oprimidos, sem possibilidades, pois eu os aliviarei. A vida não precisa ser um fardo insuportável pois o meu fardo é leve, eu me atrelo à sua vida (jugo) para que você possa caminhar. Portanto, aprenda de mim. Você encontrará descanso para a sua alma. Jesus numa terra de ninguém surge como esperança, mesmo numa sociedade em pedaços é possível ter a certeza de que Deus se importa comigo e que intervém na história, mesmo que isso não esteja nos noticiários, nos artigos científicos. Enfim, Deus está trabalhando, e portanto, não é o relojoeiro esquecido do Deísmo. Ele intervém no mundo.


Conclusão
Deus se revelou, meu caros, Deus decidiu se mostrar, e Ele faz isso de forma abundante e suprema em Jesus. Jesus sempre surge como uma possibilidade de saída, de escolha, a palavra do mundo não é a palavra final. A sociedade enaltece o orgulho, mas Jesus ensina-nos a buscar a sua humildade, a sociedade fala de poder, Jesus nos ensina a buscar a sua mansidão. Os sábios do mundo negam a existência de Deus, e a palavra de Deus ensina que ele se mostra aos pequeninos. Busque a Jesus com toda intensidade do seu ser, ele é a revelação máxima de Deus, Ele é o sim de Deus ao humano, ao mundo, Ele é a reconciliação de Deus com o mundo, Ele é a possibilidade, Ele é a esperança. Você terá que caminhar na contra-mão do mundo, na contra-mão do sistema. T.S. Eliot disse: "num mundo de fugitivos, a pessoa que vai na direção oposta sempre dará a impressão de estar fugindo". Portanto, mesmo que pareça loucura, enquanto a sociedade escorrega, vou orar e trabalhar para que o reino de Deus avance. O mundo contemporâneo nunca representará uma ameaça á ação de Deus. Deus está sempre presente, em todos os momentos, em todas as situações e contextos, sempre (Salmo 139 prova isso). Deus nos ajude a enxergá-lo. Amém.



Sonhos de Pastor

O poeta português Fernando Pessoa disse que o ser humano é do tamanho dos seus sonhos. Se esta afirmação for verdadeira na sua completude, o que duvido, então estou bem, porque tenho muitos sonhos. Sonhos para mim, para minha família, para meus futuros filhos, que terei com minha esposa, se Deus assim o permitir, e eles terão cabelinhos enroladinhos assim como os meus, se Deus quiser. Sonhos para o meu ministério como pastor. Enfim, é preciso aceitar que os sonhos são parte importante da existência humana. Pensemos nessas coisas.

Segundo Benjamin Franklin, se um homem pudesse ter metade dos seus desejos realizados, teria mais aflições do que prazeres, e ele tem plena razão. Nem todo sonho é bom, mesmo porque, o ser humano é marcado pelo pecado e isso resulta em egocentrismo, individualimo, egoísmo, ganância e assim sendo, os próprios sonhos ficam contaminados.

Talvez você pense que os sonhos dos pastores são parecidos, tipo: fazer com que a igreja tenha tanta gente que saia pelo ladrão, ter um nome famoso e ter influencia na denominação, ser conhecido no bairro, na cidade, no país. Mas advirto que as coisas não são bem assim. Pela Palavra e pelo Espírito sabemos que há coisas mais importantes do que essas. É obvio que todo pastor gostaria de ver na igreja que pastoreia mais gente se achegando, mais crianças, mais adolescentes, mais jovens, mais famílias, mais batismos, mais cálices na hora da ceia, mais bancos ou cadeiras, mais gente ouvindo as preleções, mais músicos, mais ministérios em funcionamento, mais gente nos cultos de estudo bíblico e oração etc. Mas o ministério não deve se limitar a isso.

É verdade que nem sempre os sonhos se realizam do jeito que a gente quer. É preciso aceitar o fato que existe uma distância entre o sonho e a sua realização, e às vezes, a distância tende ao infinito. Além disso, infelizmente, nem sempre a gente sonha as coisas certas; pode até ser que os sonhos não tenham respaldo na Palavra. E isso significa desperdício de esforço e de tempo. Se assim for, é como se dispor a fazer uma viagem, sabendo que Deus não vai estar junto na jornada. Isso nos lembra a história de Israel em peregrinação para a terra prometida. Deus assim disse para Moisés: vai para uma terra que mana leite e mel, mas não irei no meio de ti. (Ex 33.3). Moises respondeu ao Senhor: “Se Tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui” (Ex 33.15). Moisés sabia muito bem que ir a qualquer lugar sem Deus, mesmo que seja a terra prometida, não valeria a pena. Sendo assim, o grande segredo é sonhar os sonhos que agradam a Deus, e nos quais Ele esteja incluído.

Se assim for, todo esforço valerá a pena, mesmo porque não importa só a realização dos sonhos, mas também toda a caminhada e processo até que eles se cumpram e concretizem. De que adianta realizar os sonhos em relação a comunidade chamada igreja, se muitos vão sendo deixados e vão sendo massacrados no meio do caminho? Faria Deus parte disso?

Eu como pastor sonho sim com o crescimento da igreja, sonho com o dia em que todos os cultos sempre tenham mais gente do que bancos vazios, sonho com o dia em que nenhum membro da comunidade agirá como visitante na sua própria igreja. Sonho com o dia que cada membro agirá como protagonista da sua própria espiritualidade e crescimento, vendo a si mesmo como ministro do Senhor. Mas além desses sonhos de pastor, eu sonho principalmente em caminhar dentro da vontade de Deus, usando uma linguagem antropopática, eu quero sonhar os sonhos de Deus, afim de que eu gaste meu esforço, meu trabalho, minha dedicação naquilo que alegra o coração de Deus.

Sendo assim, mesmo que os sonhos estejam distantes da realização, não haverá barreiras que poderão nos desanimar. O cantor popular disse que sonho que se sonha só, é só um sonho, mas sonho que se sonha junto, é realidade. Acho que ele tem razão. Sonhemos, então, juntos, unidos e com um mesmo sentimento bons e belos sonhos. Que Deus, Aquele que opera em nós o querer e o realizar, guie-nos, ajude-nos e nos sustente. Amém.

Pastor Laurencie

sexta-feira, 2 de julho de 2010

FORMA x ESSÊNCIA

Uma igreja que tem em si o anseio por ser relevante no contexto que está inserida precisa conhecer muito bem a diferença entre forma e essência. Uma confusão em relação a esses termos pode causar muitos problemas e pode prejudicar a igreja no cumprimento da sua tarefa. Era sobre o forma e essência que Jesus estava falando quando disse: Não se põe vinho novo em vasilha de couro velha, se o fizer, a vasilha rebentará, o vinho se derramará e a vasilha estragará. Ao contrário, põe-se vinho novo em vasilha de couro nova; e ambos se conservam (Mateus 9.17). Vamos pensar um pouco nessas coisas.

Jesus está mostrando que existe grande diferença entre vinho e a vasilha que se coloca o vinho. Para você compreender bem, esclareço: o vinho novo representa a mensagem do Reino de Deus, que se apresentada ao mundo através de Cristo, em rápidas palavras, é o evangelho da graça de Deus. Um texto bem sugestivo em relação a isso é o que se encontra em João 2, e fala da transformação da água em vinho. O veredicto do texto é que o vinho novo apresentando por Jesus é bem melhor e superior ao vinho antigo, que era representado pela religião judaica com seus costumes e ritos. No texto citado do evangelista Mateus, o Senhor mostra que para o vinho novo que está sendo apresentado é preciso uma vasilha nova, uma estrutura nova, um molde novo, um paradigma novo que seja mais coerente, mais resistente, mais contextualizado, assim, nas palavras de Jesus, ambos se conservam.

Talvez esteja se perguntando: “O que isso tem a ver com a igreja?” E eu respondo: “Tem tudo a ver”. Afinal, a igreja precisa discernir o que é vinho e o que é vasilha, precisa compreender o que é forma e o que essência para saber como atuar no mundo. Vou exemplificar para esclarecer melhor: cada igreja tem o seu “jeitão” de fazer as coisas, sua cultura, sua liturgia, a maneira como as pessoas se portam dentro do templo na hora do culto, o hinário, o estilo de pregação, a disposição dos bancos etc. Tudo isso é forma, é o jeito de ser de uma igreja. Cada igreja tem a sua forma, o seu paradigma. Se você for num culto pentecostal o paradigma é um, numa igreja tradicional, obviamente, é outro. E numa igreja neopentecostal é outro completamente diferente dos anteriores. Faça uma comparação entre uma igreja batista de 20 anos atrás e uma igreja batista de hoje, e perceba como as formas e os paradigmas são diferentes.

A crise acontece quando os crentes confundem forma com essência. Eles tornam sagrado (sacralizam) a forma como se fosse essência. A essência da igreja está em viver, transmitir e retransmitir o evangelho de Cristo através da sua prática, dos seus valores, dos seus princípios. Isso é a verdadeira essência da igreja, esse é o seu conteúdo. Agora, o “jeitão” da igreja fazer as coisas, sua cultura, sua liturgia, sua música, os instrumentos musicais usados no cultuar, o ritmo, a maneira de estar e participar dos cultos, o estilo das pregações, a disposição dos bancos, tudo isso é forma, é modelo, é um paradigma, e portanto, são relativos e estão sujeitos ao tempo, e em muitos casos, carecem de transformações.    

Jesus bem que ensinou: tempo novo, forma nova, paradigma novo. O fato é que muitas pessoas são contra as mudanças na igreja, e seu pecado está, justamente, em confundir forma com essência. Eu acho até engraçado: muitos têm na sua casa uma TV LCD, DVD, celular de última geração, geladeira frost free, microondas, liquidificador, ar condicionado, notebook, mp3, mp4, ipod, carro com direção hidráulica, injeção eletrônica, air bag etc, mas em relação à igreja, não aceitam as mudanças. Acolhem as mudanças que a tecnologia e os novos tempos lhes oferecem, mas em relação à igreja, desprezam a novidade. Pense e responda: é de rir ou é de chorar? 

Concluo dizendo: meus caros irmãos e irmãs fiquem atentos, forma é uma coisa, essência é outra. A forma não pode ser desprezada, ela é importante. Sem odres não se pode servir o vinho. Contudo, a forma deve estar sujeita a essência. As boas novas de Cristo sempre são inovadoras e carecem de paradigmas novos, “jeitão” novo, modelos novos, que sejam contextualizados, mas que não firam a Vontade de Deus. As formas servem a igreja, e devem ser trocadas sempre que for necessário. A essência permanece, mas as formas vêm e vão. Não confunda a forma da igreja com a essência do evangelho de Cristo. Alguém uma vez disse: a única coisa que é constante é a necessidade da mudança. Eu acho que ele tinha razão. Pelo menos quando o assunto for forma, paradigma, estrutura. Que o Senhor das Boas Novas nos ajude construir uma forma, uma estrutura, um paradigma para a  igreja contemporânea que não atrapalhe a essência. E que assim seja!  
                                                                                                                                       Pastor Laurencie

sábado, 5 de junho de 2010

SAUDADES DE UM TEMPO QUE NUNCA EXISTIU



 “Quando eu era menino, falava como menino e raciocinava como menino. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino” (I Coríntios 13.11).

“Para tudo há uma ocasião certa; há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu: tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar” (Eclesiastes 3.1 e 4).

A Bíblia nos ensina que a vida é veloz, rápida, frágil, vulnerável. Nas palavras do salmista é como a relva que brota ao amanhecer, germina e brota pela manhã, mas, à tarde, murcha e seca. Com certeza, nós podemos concordar com essa frase, pois vivenciamos isso na própria pele. Meu Deus! Eu fico a pensar: como a vida tem passado rápido – ontem estava jogando bola na rua, e hoje estou aqui sentando à frente do meu computador pensando em escrever algo que seja abençoador para os meus irmãos. Ontem estava na escola assistindo aula e entendendo pouca coisa, hoje, sou professor e continuo entendendo pouca coisa. Ontem poucas responsabilidades, hoje, excesso de responsabilidades. É verdade, temos de admitir, a vida caminha veloz.

Às vezes, por ledo engano, ou por descuido, ou por tristeza ou decepção no aqui e agora da vida, alguns olham para trás, e têm a impressão, que lá naquele tempo eram felizes e sabiam. Era lá que as coisas aconteciam para o bem. Era lá. E são, assim, levados pelos caminhos da memória a olhar para vida com nostalgia. Saudades. E a impressão que lá naquele lugar, naquele tempo, tudo estava no devido lugar, tudo era feito da melhor maneira. Pensam consigo mesmo: naquele tempo os jovens respeitavam os mais velhos, os crentes levavam sua fé com mais seriedade, o pastor era mais rígido, mais moralizador, os crentes estudavam mais a Bíblia. No templo, o silêncio era quase absoluto. Nada de celular tocando aqui e ali. E as músicas eram só do Cantor Cristão. Aliás, um colega meu, uns dias atrás, tirando um sarro nos crentes de hoje, disse que o único cristão que restou na igreja foi o cantor, o Cantor Cristão. Infelizmente alguns pensam isso mesmo. Contudo, afirmo com convicção, estão enganados. Foram persuadidos por sua própria memória.

É preciso admitir que a memória é seletiva. Ela não guarda todos os fatos, acontecimentos, todas as sensações vividas e experimentadas. Não. Nada disso. Ela seleciona os fatos vividos. E por isso temos a sensação que lá no passado que a vida era boa, lá na infância, ou na juventude. Nada de mal em recordar as coisas do passado. Alguns até dizem que recordar é viver. Todavia, a vida em todos os momentos é dialética. Ela coaduna coisas boas e ruins em todas as etapas. Ninguém é 100% alegre ou 100% triste durante a jornada da existência. Existem, sim, alegrias que se misturam com tristezas, sorrisos que se entrelaçam com lágrimas, pulos de alegria com raiva e decepção. Sonhos realizados com frustrações, e assim a vida vai percorrendo o seu caminho. Se você pensar com sinceridade, entenderá e aceitará que a vida lá trás não era quase uma perfeição, era, simplesmente, vida. Vida na normalidade e na naturalidade. Vida que traz junto de si coisas boas e ruins em todos os tempos e ponto.

Creio eu que um dos grandes segredos para se viver bem, ou seja, em saber lidar com o passado de uma forma sincera e realista, em saber desfrutar do presente e olhar esperançosamente para o futuro, está na palavra contentamento. Tal palavra deriva-se do latim contentu (contido) e sugere a ideia de conteúdo. Assim sendo, viver com contentamento é ser capaz de usufruir o conteúdo da realidade na qual se está inserido. Por Deus ser graça pura e benevolência infinita, existe a possibilidade, em qualquer circunstância, do contentamento acontecer.

É preciso concordar com os autores bíblicos quando afirmam que há tempo para tudo, há tempo de ser criança e viver a infantilidade, e há tempo de crescer e deixar as coisas de criança. Há tempo de chorar e de rir, há tempo de prantear e há tempo de celebrar, festejar, dançar. A grande questão é que devemos aprender a aproveitar os momentos, a expressão carpe diem mostra isso e surge como convite: aproveite o momento! Portanto, não fique amargurado por estar envelhecendo, afinal, só envelhece quem está vivo. Não fique olhando para o passado, achando que a felicidade só existia lá. Não. Definitivamente não! Convido-o a buscar sabedoria em Deus para poder viver bem, e assim, aproveitar, curtir, e encontrar boas razões para celebrar o momento presente com confiança Naquele que é o inventor da vida.  Que Deus, Aquele que afeta a vida em todos os instantes, possa abrir os nossos olhos a fim de que possamos enxergar a Vida que brota da Sua graça. Amém.
                                                                                                                        Pastor Laurencie 

sábado, 15 de maio de 2010

CONFISSÕES DE UM PASTOR

Se déssemos uma boa olhada na história do povo evangélico no Brasil a uns cinqüenta, quarenta ou trinta anos atrás, ficaríamos surpreendidos com a visão que se tinha dos pastores:  homens de profunda respeitabilidade, confiança, uma referência para as famílias, seus conselhos eram acatados sem muita discussão. As pessoas olhavam para esses homens e diziam: “Eis aí um grande exemplo de honestidade e integridade”. O pastor era o exemplo de espiritualidade, um verdadeiro sacerdote no sentido vétero-testamentário, com muita autoridade, muito poder e muita aceitação.

Todavia os anos passaram e muita coisa mudou, a sociedade mudou, os padrões morais e valores éticos mudaram, pelo menos a forma de olhar para eles, as famílias mudaram, o jeito de educar filhos mudou, o conceito de autoridade já não é levado muito em conta, as escolas mudaram. Como diz o cantor popular: “o mundo está ao contrário e ninguém reparou”. Consequentemente, a igreja sofreu mudanças e o olhar sobre os pastores também. Mas não foi só o olhar sobre os pastores que mudou, eles também mudaram. Muitos, inclusive, tornaram-se padrão de não-exemplo, não-referência, não-espiritualidade. Hoje os pastores honestos, íntegros, de boa fé são a exceção e não a regra. Que triste! Eu fico pensando: “Meu Deus, como ser pastor, num tempo assim, num mundo onde tudo é olhado com desconfiança? Onde os valores absolutos da ética foram lançados por terra, e o conceito de autoridade está em crise, seja numa empresa, casa ou igreja? Como ser pastor aqui e agora?”. Não culpo a ninguém, afinal, eu não sou o juiz da história. Apenas, lamento.

Diante desse quadro apresentado, muitos medos surgem diante de mim e em mim. Mesmo porque, apesar dos maus exemplos, ser pastor é algo muito sério e de profunda responsabilidade. Pastorado não é profissão, é vocação, chama-mento. Uma pessoa decide ouvir a voz divina para ser pastor não por causa do poder, visto que Jesus ensinou: “Quem quiser ser o maior, que seja, então, o menor, o servo”. Veja bem: servo e poder não são coisas que combinam. Muito menos por causa da autoridade, pois os referenciais de autoridade praticamente não existem nas sociedades pós-modernas. Alguém decide ser pastor devido a uma chama, “chama-mento”, que arde em seu coração, uma chama que queima tudo, e até incomoda, uma vez que, de certa forma, tira até a paz. Tira o sossego, o sono. Não que isso seja ruim, afinal, vem do céu, vem do alto. Fato é que Deus em sua graça, convoca algumas pessoas para servirem as outras, para serem mentores espirituais, encorajadores, companheiros de jornada, profetas da modernidade, proclamadores do evangelho puro e simples do Senhor Jesus Cristo.

Como já disse: é muita responsabilidade e demasiado peso sobre os ombros. Por isso os medos surgem. Medo de se calar não hora que a verdade precisa ser dita, medo de falar na hora em que silêncio deveria imperar, medo de falar demais, medo de falar de menos, medo de cair no ativismo, medo de ser passivo demais, medo de agradar, medo de desagradar, medo de não ser forte o suficiente, medo de não ser perseverante o suficiente, medo de não ter coragem suficiente. Medo de  ser um excelente pastor e cair no orgulho, medo de ser um mau pastor e cair no esquecimento. Simplesmente, medo de fracassar. Medo de andar nos caminhos da arrogância e auto-suficiência. Medo de valorizar demais o que não é pra ser valorizado demais, medo de cair numa rotina de religiosidade e não-espiritualidade, medo de pensar que o evangelho é algum tipo de lei, medo de dar espaço para o moralismo, medo de não agir de acordo com os princípios da graça. Medo, medo e medo...

Talvez você esteja dizendo a si mesmo: “que pastor medroso, como posso confiar nele?”. Na verdade, não sou medroso, sou humano, demasiadamente humano. Cheio de angustias existenciais como qualquer um. Quem não tem medos que atire a primeira pedra. Sabe, agora, neste exato momento que estou escrevendo essa pastoral, olhei para minha estante de livros e vi um intitulado: “O despertar da graça” de Charles R. Swindoll. Decidi pegá-lo e abrir no capítulo chamado: “Você é um ministro da graça?” As palavras de Swindoll me fizeram lembrar de outro texto: um texto paulino o qual diz: “Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus e não de nós [...] Por isso não desanimamos. Embora exteriormente estejamos a desgastar-nos, interiormente estamos sendo renovados dia após dia”.

Essas palavras fizeram meus medos se calarem por alguns instantes. Provavelmente eles vão voltar mais tarde. Mas estou plenamente convicto que sou vaso de barro, pequeno, frágil, cheio de medos, dúvidas e Deus, apesar de tudo, continua sendo gracioso, benevolente, poderoso e escolhendo pequenos vasos para fazer a sua obra. Acho que vou deixar meus medos de lado e vou descansar no poder divino, vou me dispor a ser ministro da graça, e a ser forte em meio à fraqueza, em Deus. Convido-o a fazer o mesmo, pois você é tão vaso de barro quanto eu sou. Nunca se esqueça disso: Deus só trabalha com vasos de barro para que a glória seja toda Dele. E que assim seja!                                                                 Pastor Laurencie