sexta-feira, 2 de julho de 2010

FORMA x ESSÊNCIA

Uma igreja que tem em si o anseio por ser relevante no contexto que está inserida precisa conhecer muito bem a diferença entre forma e essência. Uma confusão em relação a esses termos pode causar muitos problemas e pode prejudicar a igreja no cumprimento da sua tarefa. Era sobre o forma e essência que Jesus estava falando quando disse: Não se põe vinho novo em vasilha de couro velha, se o fizer, a vasilha rebentará, o vinho se derramará e a vasilha estragará. Ao contrário, põe-se vinho novo em vasilha de couro nova; e ambos se conservam (Mateus 9.17). Vamos pensar um pouco nessas coisas.

Jesus está mostrando que existe grande diferença entre vinho e a vasilha que se coloca o vinho. Para você compreender bem, esclareço: o vinho novo representa a mensagem do Reino de Deus, que se apresentada ao mundo através de Cristo, em rápidas palavras, é o evangelho da graça de Deus. Um texto bem sugestivo em relação a isso é o que se encontra em João 2, e fala da transformação da água em vinho. O veredicto do texto é que o vinho novo apresentando por Jesus é bem melhor e superior ao vinho antigo, que era representado pela religião judaica com seus costumes e ritos. No texto citado do evangelista Mateus, o Senhor mostra que para o vinho novo que está sendo apresentado é preciso uma vasilha nova, uma estrutura nova, um molde novo, um paradigma novo que seja mais coerente, mais resistente, mais contextualizado, assim, nas palavras de Jesus, ambos se conservam.

Talvez esteja se perguntando: “O que isso tem a ver com a igreja?” E eu respondo: “Tem tudo a ver”. Afinal, a igreja precisa discernir o que é vinho e o que é vasilha, precisa compreender o que é forma e o que essência para saber como atuar no mundo. Vou exemplificar para esclarecer melhor: cada igreja tem o seu “jeitão” de fazer as coisas, sua cultura, sua liturgia, a maneira como as pessoas se portam dentro do templo na hora do culto, o hinário, o estilo de pregação, a disposição dos bancos etc. Tudo isso é forma, é o jeito de ser de uma igreja. Cada igreja tem a sua forma, o seu paradigma. Se você for num culto pentecostal o paradigma é um, numa igreja tradicional, obviamente, é outro. E numa igreja neopentecostal é outro completamente diferente dos anteriores. Faça uma comparação entre uma igreja batista de 20 anos atrás e uma igreja batista de hoje, e perceba como as formas e os paradigmas são diferentes.

A crise acontece quando os crentes confundem forma com essência. Eles tornam sagrado (sacralizam) a forma como se fosse essência. A essência da igreja está em viver, transmitir e retransmitir o evangelho de Cristo através da sua prática, dos seus valores, dos seus princípios. Isso é a verdadeira essência da igreja, esse é o seu conteúdo. Agora, o “jeitão” da igreja fazer as coisas, sua cultura, sua liturgia, sua música, os instrumentos musicais usados no cultuar, o ritmo, a maneira de estar e participar dos cultos, o estilo das pregações, a disposição dos bancos, tudo isso é forma, é modelo, é um paradigma, e portanto, são relativos e estão sujeitos ao tempo, e em muitos casos, carecem de transformações.    

Jesus bem que ensinou: tempo novo, forma nova, paradigma novo. O fato é que muitas pessoas são contra as mudanças na igreja, e seu pecado está, justamente, em confundir forma com essência. Eu acho até engraçado: muitos têm na sua casa uma TV LCD, DVD, celular de última geração, geladeira frost free, microondas, liquidificador, ar condicionado, notebook, mp3, mp4, ipod, carro com direção hidráulica, injeção eletrônica, air bag etc, mas em relação à igreja, não aceitam as mudanças. Acolhem as mudanças que a tecnologia e os novos tempos lhes oferecem, mas em relação à igreja, desprezam a novidade. Pense e responda: é de rir ou é de chorar? 

Concluo dizendo: meus caros irmãos e irmãs fiquem atentos, forma é uma coisa, essência é outra. A forma não pode ser desprezada, ela é importante. Sem odres não se pode servir o vinho. Contudo, a forma deve estar sujeita a essência. As boas novas de Cristo sempre são inovadoras e carecem de paradigmas novos, “jeitão” novo, modelos novos, que sejam contextualizados, mas que não firam a Vontade de Deus. As formas servem a igreja, e devem ser trocadas sempre que for necessário. A essência permanece, mas as formas vêm e vão. Não confunda a forma da igreja com a essência do evangelho de Cristo. Alguém uma vez disse: a única coisa que é constante é a necessidade da mudança. Eu acho que ele tinha razão. Pelo menos quando o assunto for forma, paradigma, estrutura. Que o Senhor das Boas Novas nos ajude construir uma forma, uma estrutura, um paradigma para a  igreja contemporânea que não atrapalhe a essência. E que assim seja!  
                                                                                                                                       Pastor Laurencie

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