Celebrando
a vida
Introdução
Esta parábola é conhecida como a parábola do filho
pródigo[1].
Ela conta a história de um jovem que não estava satisfeito com sua vida na
fazenda ao lado de seu pai e seu irmão (o texto não fala nada sobre a mãe). Não
satisfeito com sua vida, com o coração cheio de inquietações e fantasias, tal
jovem acreditava que sua vida se realizaria bem longe dali.
Assim, de uma maneira desrespeitosa[2]
pede ao pai que lhe dê a sua parte na herança, pois iria viver sua vida num
lugar onde as coisas seriam bem “melhores” do que ali, pertinho do pai.
Dessa forma, o filho pega sua parte da herança,
vai para uma terra distante. Vive dissoluta e irresponsavelmente. Gasta todos
os seus bens em festas com mulheres e “amigos”. E acaba sem nada. Acaba na
solidão. Bem que o autor de Provérbios disse: “Há caminhos que ao homem parece ser bom, mas seu fim, são caminhos de
morte” (Provérbios 14.12).
Estando num estado de lamaçal, marcado por uma
completa indignidade, este rapaz cai em si e se lembra que tem um pai que cuida
de todos os que estão ao seu redor, inclusive dos servos que são tratados com
todo respeito e consideração. Assim decide voltar.
Seu pai o recebe com todo carinho e amor.
Perdoa-lhe sua tolice e escolhas equivocadas. Restitui-lhe a posição de filho e
celebra jubilosamente sua restauração.
O irmão mais velho que nunca desrespeitou o pai,
pelo menos, não como o irmão mais novo, fica indignado e decide não participar
da festa. Fica emburrado e bicudo do lado de fora. O pai gentil e graciosamente
tenta lhe abrir os olhos para sua miopia em relação ao que estava acontecendo:
a alegria do pai é ter seus filhos por perto, vivendo sob seus cuidados e
proteção, vivenciando do seu amor, misericórdia e benevolência.
Identificando
os personagens
Fica evidente no contexto que o pai representa
Deus, o Pai amoroso. Aquele que graciosamente está disposto a abençoar a todos.
Deve ficar claro que a bênção de Deus se torna efetiva naqueles que se rendem
aos seus pés e aceitam o seu padrão de vida. Já o filho mais novo representa
todo ser humano pecador que em arrependimento e compreensão de sua miséria
intrínseca se achega ao pai em busca de perdão, restauração, sentido de vida. O
filho mais velho representa aqueles que prestam seu serviço ao pai – seja pela
religião, seja por boas obras, seja pela moral – e por gostar tanto daquilo que
fazem acabam admirados demais consigo mesmos, tornando-se orgulhosos e
moralistas e não entendendo, assim, o amor generoso do pai aos pecadores
arrependidos. Por confiarem demasiadamente no seu potencial de agradar a Deus
acabam não compreendendo a dimensão de sua graça e amor.
Aplicação
Através
dessa parábola podemos extrair lições preciosas para nossa vida aqui e agora:
Lição
1: Deus festeja alegremente quando um pecador
se arrepende de seus pecados, de seus descaminhos, de suas escolhas equivocadas
e se achega a Ele em fé, humildemente, confiando na capacidade divina de agir com
benevolencia, e busca, assim, perdão e restauração.
Lição
2: Não
há uma vida tão estragada, tão deploravelmente marcada pela indignidade, que
Deus não possa reconstruí-la através do seu amor generoso.
Lição
3: Na
presença de Deus, um pecador arrependido não tem débitos. E um homem cheio de
si mesmo, ainda que religioso, não tem créditos, visto que diante do Pai
amoroso que age sempre por livre decisão de sua graça, não há barganhas a
fazer.
Lição
4: Uma
vida construída à luz dos paradigmas[3]
do Pai é vida de celebração jubilosa (“feliz
aquele que teme ao Senhor e anda nos seus caminhos” – Salmo 128.1). Vida
longe do Pai é sinônimo de alienação e equivocidade (“[...] os ímpios não prevalecerão no julgamento,
nem os pecadores, na assembleia dos justos” – Salmo 1.5).
Lição
5: Não
há cristão que não tenha agido como o irmão mais velho, com arrogância diante
de um pecador. E não há cristão que não necessite de algum tipo de arrependimento,
pois em muitas situações não se faz o bem que quer, mas o mal que não quer
(Romanos 7.19).
Lição
6: A
graça de Deus pode curar e restaurar uma vida marcada por escolhas erradas
(irmão mais novo). E pode curar e restaurar também um coração cheio de
narcisismo e orgulho (irmão mais velho).
Lição
7: Se
seu coração se render diante da graça de Deus que é dada aos seres humanos por
intermédio de Jesus – sua vida, morte e ressurreição – sua existência estará a
partir desta decisão em sintonia e harmonia com o Pai amoroso, e suas bênçãos
eternas atingirão o seu ser na sua completude.
Lição
8: A graça[4]
é o jeito de Deus lidar com a humanidade e toda a criação. A graça é a
linguagem de Deus. Que esta seja sua linguagem também! Que esta seja a nossa
linguagem! Amém!
Achegue-se com sinceridade e contrição diante do
Deus de amor e usufrua, assim, de sua graça benevolente, restauradora e cheia
de esperança! Isso, sim, é celebrar a vida!
Pastor
Laurencie
[1]
Eu prefiro denominá-la de a parábola do Pai amoroso por entender que o
personagem principal da parábola é o Pai e não o filho que era pródigo em fazer
bobagens.
[2]
No mundo bíblico é desrespeitoso para com o pai pedir sua parte na herança
enquanto ele está vivo.