segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mergulhando em Deus para poder mergulhar em si mesmo

“Por que vês o cisco no olho de teu irmão e não reparas na trave que está no teu próprio olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tens uma trave no seu? Hipócrita! Tira primeiro a trave do seu olho; e então enxergarás bem para tirar o cisco do olho de teu irmão”. (Mateus 7.3 a 5)

“Levai os fardos uns dos outros e assim estareis cumprindo a lei de Cristo”
(Gálatas 6.2)

            Existem duas posturas que um ser humano pode assumir na jornada existencial: o auto-engano e autoconsciência. O auto-engano é aquela atitude teimosa e insistente tomada por alguns que se recusam a olhar para si mesmos com sinceridade, enxergar as falhas, os problemas, os vícios, as maldades que estão no fundo do próprio coração, as mazelas comportamentais da própria vida. Já a autoconsciência é aquela honestidade consigo mesmo e com os outros também, inclusive com Deus, de aceitar o que se é, com toda integridade e sinceridade, seja bom ou seja mau e assumir uma luta constante para ser melhor para Deus, para si e para os outros.
            Em geral, aquele que se auto-engana tende a ser muito duro e rígido com os outros. Isso é bem visível nos religiosos que foram pedra de tropeço no caminho de Jesus Cristo quando ele passou por aqui. Justamente por serem religiosos e cumprirem uma lista gigantesca de tradições, rituais e formalidades tais homens se gabavam de si mesmos e desprezavam os que não eram da sua corja. Não só desprezavam, mas também julgavam e condenavam o tempo todo, tendo um prazer estranho de punir e ver o sofrimento alheio. Aquele que se auto-engana não tem espelho em casa, ou seja, não se enxerga e justamente por não se enxergar minoriza ou desconsidera suas próprias falhas e faltas e se concentra, doentiamente, nas falhas e faltas dos outros. Insiste em tirar o cisco do olho do outro, mas não percebe que há uma trave no seu. Jesus dá um nome para isso: hipocrisia, isto é, o ato de fingir ser algo que não se é, assumir uma atitude de ator, e viver a vida como se esta fosse um palco.
              Já o que tem autoconsciência se vê, enxerga-se com sinceridade e por se ver, acaba olhando para os outros com mais tolerância. Creio que a autoconsciência não é fruto de um encontro consigo mesmo ou de sessões terapêuticas de psicologia profunda, mas é fruto de um encontro existencial com Deus. Só quem se encontra com Deus pode dizer: “miserável homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” (Romanos 7.24). Ou dizer ainda: “ai de mim! Estou perdido; porque sou homem de lábios impuros e habito no meio de um povo de impuros lábios” (Isaías 6.5). Perceba que o profeta primeiramente olha para si, só depois atenta para o povo. Só quem se encontra verdadeiramente com Jesus pode afirmar com toda a convicção do seu coração: “afasta-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador” (Lucas 5.8). Só quem se abriu honestamente para Deus e disse: “pequei contra Ti ”, (Salmo 51.4) e “eu nasci em iniquidade” (Salmo 51.5) pode também orar na simplicidade de ser o que se é e no anelo por ser mais para Ele: “ó Deus, cria em mim um coração puro e renova em mim um espírito inabalável” (Salmo 51.10). Certamente, a autoconsciência é um dos melhores remédios contra a arrogância.
            Infelizmente a religião, em geral, se tornou uma fonte de auto-engano, pois produz nas pessoas uma falsa sensação de virtude e segurança. Por isso que em muitos casos os religiosos adoram falar das suas proezas e do seu bom comportamento enquanto também falam mal do comportamento de outrem. Nada mais anticristão. A verdade é que por alguém ser religioso não significa necessariamente que tenha tido um encontro com Deus e Cristo. Pois um encontro com o divino deveria produzir humildade e não orgulho, um coração de carne e não de pedra, um olhar generoso sobre o outro e não um olhar cheio de rancor impiedoso e intolerante.
            Jesus não nega que haja um cisco no olho alheio, ele só ensina que para poder ajudar em verdade os outros é preciso primeiramente olhar com sinceridade para si mesmo, reconhecer as próprias faltas e os próprios descaminhos, ou seja, “tirar a trave do próprio olho”, para assim estender a mão, ajudar e se dispor a ser útil “para tirar o cisco do olho do outro”.
            Paulo escreve aos Gálatas: “se alguém for surpreendido em algum pecado, vós, que sois espirituais, deveis restaurar essa pessoa com espírito de humildade. E cuida de ti mesmo, para que não sejas tentado também” (Gálatas 6.1). O pecado é uma realidade em nossas vidas, em nossas igrejas e temos que aprender a lidar com ele. O julgamento não é o jeito bíblico de lutar contra esse problema. O jeito bíblico é: buscar ajuda em Deus que é gracioso e rico em perdão, olhar para si com integridade para não se achar bom demais, e assim, com espírito de humildade, restaurar aquele que caiu.
            Concluo dizendo que creio plenamente que a igreja do Senhor é uma comunidade de restauração. Ao longo da história da igreja cristã muitas pessoas não tiveram a oportunidade de serem restauradas pois foram desprezadas e excluídas. Pelo amor de Deus, chega disso! Vamos com amor e graça levar as cargas uns dos outros, sem julgamentos, sem condenações. Vamos deixar isso para quem entende do assunto: Deus que é o justo juiz. No caminho da graça a autoconsciência é uma necessidade básica. Busque isso em Deus. Em Cristo, tenho a liberdade e a coragem para dizer: cuide genuinamente de si, para poder cuidar verdadeira e desinteressadamente dos outros também. Kyrie Eleisson.                                                                                                                                                                                                                                                     Pr. Laurencie  

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Cristãos intolerantes?!

        É de conhecimento de todos o fato ocorrido nos EUA, Gainesville, Flórida, em que um pastor evangélico queimou em sua igreja o livro sagrado dos muçulmanos, o alcorão, para o mundo inteiro ver. A tola atitude de tal pastor gerou uma onda de manifestações violentas em vários países do Oriente Médio, inclusive pessoas foram mortas nessas manifestações. As questões que surgem são: queimar o livro sagrado de outra religião seria uma atitude cristã? Não respeitar a religiosidade alheia teria respaldo nas atitudes do Cristo? Quem ganha com isso? O reino de Deus ganha? O evangelho ganha? Alguma pessoa é levada a salvação e a conversão a Cristo através de uma atitude assim? Creio que não.
            A atitude do pastor Terry Jones está embasada numa visão fundamentalista do cristianismo, da fé, enfim, da vida. O fundamentalismo cristão prega que a bíblia deve ser interpretada sempre literalmente, o que é um erro hermenêutico obviamente, além disso, tem uma postura muito rígida e até doentio com os que não são cristãos, como mostra a postura do pastor americano. Pelo que me consta todo fundamentalismo religioso, seja cristão ou não, é uma aberração, gera ódio, guerras, mortes, sofrimento e fundamenta a intolerância que leva as pessoas em nome de Deus a desprezarem odiosamente umas as outras.
             Pergunto: como que pessoas chamadas cristãs, servas de Jesus podem desprezar e ignorar seus ensinamentos? Será que podemos jogar pra debaixo do tapete o versículo “a qualquer que te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” (Mt 5.39)? E o verso: “amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem” (Mt 5.44) podemos nós ignorá-lo? E afirmação de Paulo de que “devemos abençoar os que nos perseguem, e não amaldiçoar” (Rm 12.14) será que podemos fingir que ela não existe? Paulo ainda ensina: “a ninguém devolvei mal por mal” (Rm 12.17), pois a vingança pertence ao Senhor, só a Ele que é multimilionário em justiça.
            Se pudesse conversar com o pastor Terry Jones eu lhe diria: “pastor Terry Jones, o senhor deveria avaliar melhor suas atitudes, visto que seu ato de intolerância gerou ódio e isso levou pessoas inocentes a morte. Lembre-se que Deus respeita a liberdade humana, e nunca obrigou ninguém a servi-lo a contra gosto . Deus criou pessoas livres e não robôs programados para dizer sim. O senhor como pastor deveria saber que Deus não patrocina atos geradores de ódio. O senhor como pastor deveria saber que atos de intolerância não levam ninguém a fé, pois não expressam o amor e a graça divinos. O senhor deveria saber que a graça é a linguagem de Deus e, portanto, deveria ser a linguagem dos que dizem crer no seu Filho Jesus, por isso, arrependa-se da sua tola e insensata atitude e se volte para o Deus verdadeiro que é rico em compaixão”.
            Como cristãos devemos ter plena convicção que o caminho chamado Jesus Cristo é o único caminho da salvação, assim, se Cristo é a verdade, se Deus é como Jesus nos mostrou, então o islã é uma religião distante do único Deus verdadeiro, e o caminho que ela apresenta é um descaminho, todavia isso não pode nos levar a sentir ódio dos muçulmanos, de forma alguma, mesmo que o fundamentalismo cristão pregue isso. Devemos, sim, ser levados a interceder pelos muçulmanos, clamar a Deus por sua salvação, e demonstrar o amor de Cristo através de atos de tolerância e generosidade. Ridicularizar a fé do outro não é um ato de graça, e portanto, não pode vir de Deus.
            A bíblia nos ensina e estimula a sermos misericordiosos e compassivos, por isso nosso olhar sobre aqueles que ainda não conhecem a graça do Pai deve ser um olhar de misericórdia e compaixão, e só assim, poderemos demonstrar a beleza de Deus, só assim os muçulmanos poderão se render a Jesus, somente e tão somente através do amor.
            Ser cristão e ao mesmo tempo ser intolerante com quem quer que seja é uma contradição, um paradoxo e, certamente, é uma postura pecaminosa que ofende a santidade de Deus, por isso, seja tolerante com aqueles que pensam diferente de você. Viva debaixo do padrão divino que é gracioso e respeite a liberdade alheia. Se os cristãos entenderem que o amor é a linguagem de Deus, se os cristãos viverem esse amor e pararem de tentar ganhar as pessoas no grito, pela força, pela imposição, então o mundo vai poder compreender do amor de Deus em Jesus e muitas conversões hão de acontecer.  Enquanto isso não acontece, lamentamos por aqueles que morreram inocentemente. Que mundo injusto! Que “fé” tão improdutiva, ineficaz e des-graçadamente destruidora! Kyrie Eleisson!
                                                                                                                      Pr. Laurencie  

sábado, 19 de março de 2011

A lógica tola dos “amigos da onça” de Jó


 Vós sois todos médicos que não servem para nada. Ah! Antes ficásseis totalmente calados, pois assim passaríeis por sábios” (Jó 13. 4 e 5)

            Sempre que algum tipo de sofrimento acontece, surgem os teólogos, filósofos, religiosos de todas as espécies para dar explicações. Mas o que a experiência mostra é que as explicações para o sofrimento e para dor, em geral, acabam trazendo mais dor e sofrimento do que consolo. O patriarca Jó que o diga. Na verdade, o verso acima citado, foi uma fala de Jó para seus “amigos da onça”: Elifaz, Zofar e Bildade. Quando eles souberam da calamidade acontecida a Jó, solidariamente logo se dispuseram a estar com ele, rasgar as vestes e lamentar junto dele por tamanha dor. Até aí tudo bem. O problema é que eles começaram a falar, a dar explicações, fazer suposições e imposições a Jó etc, infelizmente, abriram a boca, e disseram uma bobagem atrás da outra. Como disse um músico brasileiro já falecido: “quem fala demais, não tem nada a dizer”. Essa citação cai que nem uma luva sobre as cabeças dos amigos de Jó. Quem dera Elifaz, Zofar e Bildade conhecessem a arte de ficar calados, pelo menos teriam passado por sábios.
            Os amigos de Jó passam o tempo todo o acusando de algum tipo de pecado, visto que nas suas mentes, o sofrimento era consequência de desobediência a Deus, ou seja, pecado. Da argumentação desses homens, surge uma teologia que pode ser nomeada de várias maneiras, tipo: teologia da retribuição, teologia moral de causa e efeito, enfim, essa é a teologia dos “amigos da onça” e falastrões de Jó. Essa teologia parte do pressuposto de que coisas boas acontecem somente com pessoas boas, e coisas ruins acontecem só com pessoas ruins. Por isso que argumentaram incessantemente que Jó havia feito alguma coisa ruim para estar sofrendo. Dentro dessa lógica tola quando alguém sofre, é porque está pagando por algum mal que cometeu,  e isso, nada mais é do que conceito de carma dos espíritas kardecistas.
            O livro de Jó nos mostra de maneira muito clara que ele era íntegro e correto, e apesar disso, estava passando por um tempo de sofrimento terrível. Ou seja, o livro de Jó desconstrói a teologia da retribuição, e isso significa que o mal que acontece no mundo nem sempre é para retribuir a outro mal feito. O livro de Jó derruba o conceito kardecista de carma. Assim afirmo: coisas ruins acontecem com pessoas boas e com pessoas ruins, e coisas boas acontecem com pessoas boas e pessoas ruins, afinal, Deus derrama chuva sobre justos e injustos, e a vida, por mais que não aceitemos, é dialética.
            Já faz mais de 5000 anos que o livro de Jó foi escrito, e para nossa tristeza, as vozes dos “amigos da onça” de Jó ainda ecoam por aí. Refiro-me a calamidade acontecida no Japão. Alguns pastores e líderes religiosos têm usado sua tribuna para dizer que o terremoto e tsunami acontecidos no Japão são frutos do pecado daquele povo, é a velha teologia carmica da retribuição querendo ressuscitar. Confesso que não aguento mais ouvir tantas bobagens, meu anseio é que tais homens fiquem calados, pois biblicamente falando, não têm nada a dizer. Suas palavras não provêm da graça e estão entorpecidas de julgamento e dor. Nas palavras de Jó são “médicos que não servem para nada”. E, portanto, suas palavras e seus ensinamentos devem ser de todo desprezados.
            Diante do sofrimento, não fique procurando explicações, pois certamente obterá respostas incompletas e até mesmo equivocadas, que gerarão mais sofrimento. Ao invés disso, procure calar a sua alma e suas inquietações diante do Senhor, e saiba que Ele não desprezará um coração quebrantado e contrito (Salmo 51.17). Na hora da dor o melhor a fazer é aprender a arte de ficar calado. Se for pra falar, que seja para pedir por misericórdia e consolo.
            Se Deus não fosse o Deus da Graça só nos restaria esperar pela desgraça, mas como Ele é verdadeiramente o Deus de toda a Graça, e o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, só nos resta caminhar por essa vida sofredora com a expectativa de que um dia tudo se fará novo e todas as lágrimas serão enxugadas (Apocalipse 21.4 e 5). Enquanto isso, gememos de dor e nos calamos diante do sofrimento incompreensível às nossas mentes finitas, todavia, verdadeiramente, nossos gemidos de dor são também gemidos graciosos de esperança (Romanos 8.22). Por isso tomamos a decisão de nunca nos deixar vencer pelo desespero, e tomamos a decisão de nunca julgar o sofrimento alheio. Minha oração e meu desejo é que os seguidores dos “amigos da onça” de Jó se calem para sempre! Mas mesmo que eles não se calem, tomo a decisão de nunca mais lhes dar meu tempo e minha atenção! Amém!
                                                                                                     Pr. Laurencie





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Coisas que a Bíblia não ensina, mas os evangélicos acreditam


“Nem os céus e os céus dos céus podem te conter; muito menos este templo...” (II Crônicas 6.18b)

                Pensar biblicamente é uma tarefa complexa, árdua e desafiadora. Isso porque ao longo da vida, nós vamos recebendo ensinamentos, tradições e uma cultura a qual nos é imposta, e, infelizmente, nem sempre tais ensinamentos, tradições e cultura estão de acordo com a Palavra de Deus, mesmo que essas coisas tenham sido ensinadas dentro de um contexto religioso. Meu desafio hoje é trazer a tona um preceito que em geral os evangélicos acreditam, mas que não está respaldado nas Escrituras. Meu anseio é que você ouse ser um crente bereano, isto é, que analise, questione, pense, reflita, e mergulhe diariamente nas verdades das Sagradas Letras (Atos 17.11) e construa assim uma cosmovisão cristã profundamente bíblica.
                Pergunto: será que é correto pensar que um templo feito por mãos humanas é a casa de Deus? Talvez influenciado pelo Salmo 122.1: “Alegrei-me quando me disseram: vamos à casa do Senhor” – você acredite que sim, todavia tenho a responsabilidade de lembrá-lo que desde o Êxodo o tabernáculo era o lugar do culto a Deus, e depois, no reinado de Salomão, já na terra prometida, o templo passou a ser o lugar exclusivo do culto e da adoração ao Senhor. Apesar disso, veja a oração de Salomão na inauguração do templo: “Na verdade habitaria Deus com os homens na terra? Nem os céus e os céus dos céus podem te conter; muito menos este templo que edifiquei! Porém [...] que teus olhos estejam atentos dia e noite para este templo [...] para ouvires a oração que teu servo fizer voltado para este lugar” (II Crônicas 6.18 a 20). O próprio Salomão que viveu de acordo com as perspectivas na Antiga Aliança já sabia que um templo feito por mãos humanas não poderia conter a glória de Deus, quanto mais ser a Sua casa. Um servo de Deus dos tempos do AT até poderia pensar assim, como o salmista, afinal a arca da aliança estava no templo, porém, tal lógica não é permitida aos cristãos que vivem graciosamente os tempos da Nova Aliança.
                E o Novo Testamento o que tem a dizer sobre isso?! Certa vez, uma mulher disse a Jesus: “nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que Jerusalém é o lugar da adoração” (João 4.20). Jesus lhe respondeu: “mulher, crê em mim, a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai, [...] mas virá a hora, e de fato já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade” (João 4.21 e 23). A mulher citada no texto pensa que adorar a Deus é uma questão de lugar, tanto que ela pergunta: “no monte ou no templo (em Jerusalém)?”e Jesus lhe ensina que adoração não é uma questão de lugar, é uma questão da disposição do coração: “em espírito e em verdade”, ou seja, em tudo o que se faz, na plena sinceridade do ser.
                Na sua primeira carta a igreja de Corinto o apóstolo Paulo questiona aqueles irmãos: “não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (I Coríntios 6.19). E o apóstolo Pedro afirma em sua carta: “vós também, como pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecer sacrifícios espirituais aceitáveis a Deus, por meio de Jesus Cristo” (I Pedro 2.5). Paulo mostra que a habitação do Espírito Santo – a terceira pessoa da Trindade – é o corpo do cristão, e Pedro ensina que pessoas que vivem em Jesus Cristo são como pedras vivas que formam uma casa espiritual, ou seja, a igreja que é essencialmente formada de gente é casa espiritual, que significa nada mais nada menos do que ser habitação do Espírito, enfim, casa de Deus.
                Concluo dizendo: caro irmão e irmã, a Bíblia não os autoriza a acreditar que um templo feito de chão, parede, telhado é casa de Deus, pois como diz um cantor evangélico sábio: Deus não habita em templos feitos por mãos de homem. Talvez você pergunte: qual a importância então de um templo, de acordo a Palavra de Deus? O templo, biblicamente falando, tem importância secundária e até terciária, não é a toa que o templo da religião judaica, só nos tempos bíblicos, foi destruído três vezes. Assim, afirmamos que o templo é apenas um local de ajuntamento, não há nada de sacralidade nele, pois segundo os ensinamentos do Novo Testamento, não existem lugares santos, nem coisas santas, só existe o povo santo, isto é, gente que serve a Jesus vivendo na comunhão do Espírito. Encerro citando novamente o cantor de palavras sábias: “Deus não habita em templos feitos por mãos de homens, Deus não será jamais acorrentado às paredes de uma Religião, Deus não será jamais enclausurado na escuridão de quem ainda tem um coração de pedra”. Ouse abandonar ensinamentos que a Bíblia não ensina. Pense nisso!           Pr. Laurencie

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

JESUS – A LUZ DA VIDA

Eu sou a luz do mundo; quem me seguir jamais andará em trevas, mas terá a luz da vida” (João 8.12).
                Fico encantado ao olhar para o texto bíblico e perceber como a ideia da luminosidade acompanha as ações criadoras e salvadoras de Deus no mundo. Gênesis 1.2a e 3 diz assim: “a terra era sem forma e vazia [...]. Disse Deus haja luz. E houve luz”. O texto ensina que quando o universo era caos, Deus por sua Palavra criou o cosmos, ou seja, Ele bondosa e poderosamente criou todas as coisas e as deixou em ordem. Seu ato primeiro foi a criação da luz.
                Num tempo em que o povo de Israel vivia uma crise profunda, sem precedentes, Deus enviou seu servo o profeta Isaías para que proclamasse palavras de esperança. Como arauto do Senhor, ele prega em alto e bom som: “não haverá escuridão, para a terra que estava aflita [...]. O povo que andava em trevas viu uma grande luz sobre os que habitavam na terra da sombra da morte [...]. Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi concedido...” (Isaías 9.1a, 2, 6a). De maneira profética, Isaías anuncia o nascimento de uma criança que há de trazer luz aos que vivem em escuridão plena. Ele diz mais: “o governo está sobre os seus ombros, e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Isaías 9.6b). Que palavras iluminadoras e reconfortantes!
                Quando o evangelista Mateus narra o nascimento de Jesus, ele conta que três sábios do oriente foram guiados por uma estrela até o local onde o Senhor, ainda bebê, estava (Mateus 2. 1 a 12). Note: eles foram guiados por um ponto de luz no céu. Já Lucas conta que alguns pobres pastores foram surpreendidos por uma glória luminosa cheia de esplendor (Lucas 2.9). Na verdade, era um anjo do Senhor que veio comunicar àqueles simples homens o nascimento do Salvador. Lucas ainda descreve o cântico de Zacarias que mostra sua exultação pela ação de Deus na história, por meio de Seu Cristo: “graças à profunda misericórdia do nosso Deus, pela qual a aurora do alto nos visitará, para iluminar os que estão nas trevas e na sombra da morte, a fim de nos guiar nossos pés no caminho da paz” (Lucas 1.78 e 79). 
                Todos e esses textos e muitos outros que poderia citar mostram de maneira unânime que quando Deus age, criando ou salvando, Ele o faz através da luminosidade do seu Ser que se manifesta na criação de astros luminosos (no caso de Gênesis), ou se manifesta na Sua atuação poderosa na história trazendo luz a quem está nas trevas e na sombra da morte. O próprio Jesus, que representa a maior manifestação de Deus na história, autodenomina-se como a luz do mundo, e quem se permitir ser iluminado por Ele, terá a luz da vida.
                Nosso mundo por conta do pecado é confuso e triste, deixa as pessoas sem direção. Muitas delas trilham pela jornada da existência desesperançadas, frustradas, desanimadas, vivendo uma vida sem significado, verdadeiramente, em trevas. Entendo que não tem sentido em se viver assim, visto que Jesus é a luz do mundo. Ele veio do Pai para iluminar a cada ser humano, isso quer dizer que Ele deseja dar direção as pessoas sem rumo, almeja dar esperança aos desesperançados, anseia animar os desanimados, e pretende dar vida significativa para os frustrados, enfim, Ele quer salvar a cada um de uma vida medíocre e de um futuro aterrorizante.
                Hoje, celebramos o Natal de Jesus Cristo, e celebrar tamanho acontecimento nada mais é do que relembrar o coração que Deus mandou seu Filho ao mundo para iluminar os nossos passos, a fim de que caminhemos rumo ao centro da Sua vontade, que é boa, perfeita e agradável.
                Por isso, neste ano comemore o Natal de Jesus Cristo lembrando que Ele é a verdadeira luz que ilumina a vida, ou seja, Ele tem poder para iluminar todas as suas questões existenciais. E se lembre ainda que Ele chamou seus discípulos para participar da sua luz, iluminando, através de atos que demonstrem seu caráter e sua graça, o caminho das pessoas (veja Mateus 5.14 e 16). Desafio-o, hoje, a fazer da sua fé uma missão, a missão de refletir a luz de Jesus na vida das pessoas que o cercam. Creio que não existe melhor maneira de celebrar o Natal. Que Deus, o Pai das luzes, ajude-o.                   
                                                                                                                                                             Pr. Laurencie

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Natal pé no chão

[...] e ela teve seu filho primogênito; envolveu-o em panos e o colocou em uma manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria”. (Lc 2.7)
                Quem não fica encantado com a cidade na época do Natal?! Luzes, pinheiros, mais luzes, mesas fartas, troca de presentes etc... A priori não há nenhum problema nisso. Mas será que diante da onda de consumismo que se apresenta em geral nessa época não corremos o risco de perder o foco Naquele que é a razão e o sentido do Natal? O que a bíblia nos ensina sobre isso?
                Atentando para a Palavra Divina compreendemos que o Natal – o nascimento de Jesus – trata sobre o grande Mistério da encarnação. Assim sendo, no Natal podemos lembrar ao nosso coração que Deus bondosa e graciosamente se fez homem. Nas palavras do apóstolo do amor: “O Verbo se fez carne”. Mais misteriosa ainda é a situação como Deus decidiu enviar seu Filho, o Verbo: Jesus nasceu milagrosamente de uma jovem virgem, a saber, Maria que era noiva de um tal José da tribo de Judá, ambos, por sinal, paupérrimos. Foi assim que se deu o nascimento de nosso Senhor – em absoluta simplicidade e pobreza numa cidade sem muita importância, num lugar reservado para os animais. O que isso tem a nos dizer?
                      É evidente que o Natal não tem nada a ver com o consumismo, não tem a ver com o poder de compra que uma família tem, não tem a ver com os shoppings lotados, não tem a ver com o bom velhinho, nem com seus duendes, não, nada disso. Natal não está relacionado ao “ter” ou “possuir”, está sim, ligado ao “ser”. Especialmente, ser para Deus. Sendo e existindo para Deus compreendemos que no verdadeiro Natal, Ele, o Magnífico, na pessoa de seu Filho, doa-se, humilha-se, esvazia-se, empobrece-se, coloca-se deliberada e superlativamente em estado de sofrimento.
                O modo como Deus vem e age em Jesus cria para nós um paradigma, um modelo de ser e existir – Cristo, o Filho do Deus Altíssimo, veio em pobreza para que nós fossemos ricos em alegria, compaixão e generosidade. No Natal devemos compreender que Deus nos amou de tal maneira que nos deu o seu Filho. Perceba que o Natal marca um ato supremo de doação de Deus.
                Isso posto, esclarecemos: Natal – pé no chão é acolher o grande amor de Deus manifestado em seu Filho Jesus Cristo e se colocar a Sua disposição para demonstrar em atos e palavras tão grande e genuíno amor. É não desprezar ou fazer ouvido moco aos que sofrem e são oprimidos todos os dias pela dura realidade. É viver e celebrar a simplicidade e a humildade. É doar-se ao Deus de graça e investir existencialmente na Sua causa de restaurar e trazer esperança aos homens e mulheres.      
                Por isso, desafio-o, neste ano de 2010, a celebrar um Natal – pé no chão. Comemore seu Natal assim: agradeça a Deus por Jesus e demonstre sua gratidão através de atos de bondade que expressem alegria, compaixão e generosidade. Quem celebra o Natal – pé no chão é porque está verdadeiramente com a cabeça e o coração em Cristo. Pense nisso!
                                                                                                                                                             Pr. Laurencie

sábado, 13 de novembro de 2010

Eu, um eterno mendigo

Sou pobre e necessitado, mas o Senhor cuida de mim” (Salmo 40.17a)
Certamente a palavra mendigo é uma palavra extremamente forte e causa má impressão e traz várias imagens negativas àquele que a ouve. E dificilmente alguém ousaria usar tal substantivo para se referir a si mesmo. Segundo a Wikipédia – a enciclopédia livre: Mendigo ou mendicante é “o indivíduo que vive em extrema carência material, não podendo garantir a sua sobrevivência com meios próprios. Tal situação de indigência material força o indivíduo a viver na rua, perambulando de um local a outro, recebendo o adjetivo de vagabundo, ou seja, aquele que vaga, que tem uma vida errante. O estado de indigência ou mendicância é um dos mais graves dentre as diversas gradações da pobreza material”. Enquanto que sociologicamente falando a palavra mendigo tem conotação pejorativa, quando pensamos na relação do ser humano com o Deus de toda graça, isto é, teologicamente, tal palavra cai como uma luva.

Certa vez o Senhor Deus disse ao mendigo Jó: “quem primeiro deu a mim, para que eu lhe retribua? Tudo o que existe debaixo do céu é meu” (Jó 41.11). O apóstolo Paulo expressou a seguinte doxologia: “quem primeiro lhe deu alguma coisa, para que lhe seja recompensado? Porque todas as coisas são dele, por ele e para ele. A ele seja a glória eternamente. Amém” (Rm 11.35 e 36).  Paulo sabia bem do seu estado de mendicância diante de Deus, ele mesmo disse: “Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que nenhum mortal se glorie na presença de Deus.[...]Quem se gloriar, glorie-se no Senhor (I Co 1.28, 29 e 31). Perceba que a palavra mendigo expressa bem o que Paulo disse, afinal, o mendigo é insignificante, é desprezado e é considerado e tratado como nada. Mas não para Deus, não é?! Afinal, foi a esse ou a esses que Ele, misteriosamente, escolheu. 

Essa incapacidade humana de dar, ou merecer ou fazer coisas para Deus, por si mesmo, podemos dar o nome de mendicância espiritual. Um mendigo só comerá se alguém o der, e só usará as roupas que ganhar, e carecerá diária e constantemente de favores e atos de misericórdia. O mesmo vale para cada um de nós diante de Deus, visto que “ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). João, o Batista, sem ressalvas, compreendeu seu estado de mendigo  e sua indignidade diante daquele que se chama Salvador – “não sou digno nem de carregar suas sandálias” (Mt 3.11) e sua postura e oração foi a de um mendigo espiritual: “convém que ele, o Cristo, cresça e eu diminua” (Jo 3.30).

É preciso aceitar, à luz dos ensinamentos da Palavra, que eu sou um eterno mendigo diante de Deus, sou pequeno e fraco, pobre e necessitado, não tenho nada a oferecer, não há razões e nem sentido em sentir orgulho por qualquer coisa que seja, careço diária e assiduamente dos favores e dos atos de misericórdia e graça do céu.

A um mendigo espiritual por definição e convicção cabe bem a humildade, a contrição, a simplicidade no viver, a solidariedade com os outros mendigos amigos e companheiros de caminhada. Cabe ainda a ausência de julgamento e pré-conceitos em relação aos próximos que sucumbiram diante da complexidade da vida. Os mendigos não criam estereótipos de outrem, pois não há nenhum mendigo que não tenha culpa no cartório, uma vez que “todos pecaram e são carentes” (Rm 3.23a). Tenho boas notícias aos mendigos espirituais, boas novas de alegria e esperança, pois “assim diz o Alto e Sublime, que habita na eternidade e cujo o nome é santo: Habito num lugar alto e santo, e também com o contrito de coração e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes e o coração dos contritos” (Is 57.14 e 15). Os espiritualmente mendicantes não tem nada a oferecer, são desprezados e ridicularizados no mundo, contudo, é com eles e neles que Deus habita.

Lembre-se que aceitação de nossa mendicância em relação a Deus não nos menospreza ou nos humilha, mas nos eleva, pois nos traz à consciência o fato de que a vida, em todas as suas dimensões, é fruto da graça. É fruto da pré- disposição divina em agir com bondade e misericórdia para conosco, os mendicantes. Foi João que disse: “pois todos recebemos da sua plenitude, graça sobre graça” (Jo 1.16). Precisamos admitir de uma vez por todas: “nossas insignificantes obras não nos dão o direito de regatear com Deus. Tudo depende do seu bom prazer” (Brennan Manning).

Encerro parafraseando Jesus: “Superlativamente felizes são os mendigos espirituais, pois deles, somente deles, é o reino dos céus” (Mt 5.3).
                                                                                                              Pr. Laurencie