terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O SONO DA INSENSIBILIDADE

Com certeza, uma das histórias mais conhecidas da bíblia é a do profeta Jonas, o chamado profeta fujão. Geralmente, as pessoas quando lêem o livro de Jonas voltam sua atenção para a questão do grande peixe, mas a história contada ali envolve muito mais do que isso.

Recordando um pouco... Jonas, filho de Amitai, foi o profeta que predisse a expansão do reino do norte no reinado de Jeroboão II, por volta de 780 a.C. (II Reis 14.25). Porém é fato que o livro de Jonas nada nos fala de sua atividade profética em Israel. Simplesmente começa com a ordem de Javé para que profetize contra a perversa Nínive. Em vez de ir para o leste, rumo a Assíria. Jonas embarcou num navio para Társis – em direção oposta, “para longe da presença do Senhor” (v.3), o mais longe que a mente da época podia imaginar.

O que mais me chama atenção no texto de Jonas está registrado no verso 5 do capítulo 1: Todos os marinheiros ficaram com medo e cada um clamava ao seu próprio deus. E atiraram as cargas ao mar para tornar o navio mais leve. Enquanto isso, Jonas, que tinha descido ao porão e se deitara, dormia profundamente”. Destaco expressão: dormia profundamente”. Deus, o Senhor da terra e céu, havia vocacionado Jonas para a missão de pregar a Sua Palavra aos ninivitas e ele dormia profundamente. Em meio a uma terrível tempestade, no meio do mar, enquanto marinheiros pagãos clamavam por socorro aos seus deuses, Jonas, profeta de Deus, dormia profundamente. Havia uma ordem divina a cumprir, e Jonas dormia profundamente. É isso que chamo de sono da insensibilidade: a incapacidade de se importar com aquilo que Deus se importa, a incapacidade de ver o que Deus vê, incapacidade de compadecer-se das pessoas, a apatia, a passividade, a indiferença. Talvez alguém questione: “Jonas não se apiedou dos ninivitas porque aqueles assírios eram extremamente violentos e costumavam se vangloriar dos seus atos sangrentos, faziam do terror e da atrocidade instrumentos de política externa? Como alguém pode se compadecer de gente assim?”. Afirmo com convicção: Deus se compadece. Deus se importa. E por isso chamou Jonas, entretanto, ele dormia profundamente.

Quando penso na cristandade no século XXI, percebo muitos Jonas. Pessoas que foram chamadas por Deus para anunciar as suas grandezas e maravilhas, mas estão insensíveis, estão ocupadas demais, afinal, a vida é muito corrida, não há tempo para se ouvir e obedecer à voz divina. Tais pessoas estão dormindo profundamente o sono da insensibilidade, estão deitadas em berço esplendido, na sua área de conforto.

Sabe meus irmãos, o mundo desde a Queda sempre foi mau, cheio de ganância, cheio de mentiras, pessoas massacrando umas as outras. Assassinatos, guerras, atrocidades, injustiça,  tudo o que destoa da imagem e semelhança divina que há em cada pessoa. O ser humano construiu um mundo quase que totalmente desumano. E lamentavelmente muitos cristãos não se incomodam com isso. Martin Luther King disse: “O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons”. Que os maus façam seu barulho em todo o tempo e lugar isso não é novidade. Mas a indiferença dos bons é algo extremamente preocupante e triste.  Não esqueçamos: Deus chama seu povo a anunciar as suas grandezas, o seu juízo e o arrependimento. Não cabe a nós julgar se Deus deve agir com compaixão ou não. Se as pessoas são dignas da mensagem divina ou não. Se o chamado é muito complexo ou não. Se as dificuldades são grandes demais ou não. Cabe a nós, sim, obedecermos às ordens do Soberano Deus. Jonas,  entretanto, preferiu fugir.

Se tivermos um olhar atento ao texto bíblico perceberemos que Jonas foi descendo, desnivelando, caindo e decaindo tristemente até chegar as profundezas do mar. Obviamente: fugir da vontade de Deus, só pode levar a queda e a um grande abismo, conforme o próprio profeta registra. Lá na barriga do grande peixe que Jonas se lembrou que tinha um Deus a quem devia obediência (ver Jonas 2: 6 e 7).

A Igreja de Cristo, definitivamente, não pode seguir os mesmos passos de Jonas, não pode ter pena de uma planta e ser incompassivo e intolerante com as pessoas, não pode reclamar  com Deus por ser benevolente, gracioso, compassivo e perdoador. Não pode sentenciar quem quer que seja a morrer sem a oportunidade de ouvir da mensagem divina. Proponho outro caminho; um caminho bem distinto do seguido por Jonas: Vamos olhar para os campos e ver que estão brancos para a ceifa, vamos olhar para as cidades e chorar por elas, vamos clamar aos céus por justiça. Vamos ser pacificadores. Vamos pregar evangelho que é o poder de Deus para a salvação daquele que crê. Vamos clamar para que o Reino de Deus venha e sua vontade se cumpra na terra. Vamos orar como o salmista: “Creio que verei na terra dos viventes a bondade do Senhor” (Salmo 27:13).

É tempo de nos sensibilizarmos com a causa do evangelho de Cristo. Não devemos fechar os olhos, e dormir um sono de insensibilidade enquanto o mundo padece. Não fuja da sua responsabilidade de anunciar as grandezas daquele que o chamou das trevas para sua maravilhosa luz. Não fuja para Társis, ao invés disso, corra para o centro da vontade de Deus. E que assim seja!

                                                                                                Pastor Laurencie

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