terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Natal: o que celebrar?

Quando o mês de dezembro desponta no ano começam as tão grandiosas arrumações para o Natal. Luzes, muitas luzes, pinheiros, falsificados ou não, bonecos de neve, presentes, bolas de vidro, Noel pra cá e pra lá, mesas fartas de comida. A mídia, utilizando-se de artistas com cara de paisagem, transmite as mensagens que acha coerente com a data. Enquanto isso, milhares de desabrigados por causa da chuva, gente passando fome, guerras civis pelo mundo todo, violência e insegurança nas nossas cidades, muitas pessoas chorando pela perda de seus entes queridos. Gente sofrida e desesperançada. Diante disso, surge em mim um questionamento: Afinal, por que celebrar o Natal?

Digo com convicção: o Natal só vale a pena ser celebrado quando seu verdadeiro significado é resgatado e trazido à tona. Pois apesar das circunstâncias mostrarem o contrário, o Natal insiste em mostrar a mim que Deus se importa, que Deus não está distante, que Deus não é apático, não é indiferente, não é insensível, não é antipático a dor humana.

Muito pelo contrário, Deus, ao enviar Jesus ao mundo, estava derramando do seu pathos sobre a humanidade, isto é, derramando abundantemente sobre o mundo os seus sentimentos mais profundos. Tais sentimentos servem como sinal do valor que Deus atribui ao ser humano. Ele, O Deus criador do universo, onipotente, cheio de glória e majestade, é simpático à situação de cada pessoa que habita nesse vasto planeta. O apóstolo do amor já dizia: “Porque Deus amou o mundo”.

É fato que na cosmovisão mundana, ou seja, no jeito do mundo entender e perceber a realidade, não há muito espaço para o amor divino, na verdade, não há nenhum espaço para aquilo que vem do alto. Veja: Cristo nasceu e poucos sabiam, Deus havia se tornado gente de carne e osso e poucos perceberam, o céu festejava, mas a terra continuava na mesmice de sempre. Os anjos cantavam dos céus aos pastores: “Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade”, e aqui, na terra, nada de glorificar a Deus. O rei da vida havia nascido e provavelmente a maioria absoluta das testemunhas do seu nascimento era animais. Afinal, ele nasceu num estábulo. O texto bíblico afirma: “pois não havia espaço na hospedaria”. Não houve reconhecimento de sua majestade, exceto pelos pastores e magos. O Salvador estava nascendo. Contudo, as pessoas nem se davam conta que precisavam de um Salvador.  Deus veio habitar aqui. Veio, conforme João 1.14,  tabernacular entre nós, por isso pôde ser chamado de Emanuel, que é Deus conosco, Deus pertinho, bem acessível. Entretanto, por estar muito ocupado com o desnecessário, o mundo não percebeu Jesus e vinte séculos depois, o mesmo pode ser dito.

 A pergunta insiste em martelar na minha cabeça: quais as razões para celebrar o Natal, se o mundo continua sendo injusto, cheio de sofrimento, dor e tristeza mesmo com a vinda de Cristo? Essa data tão importante para o cristianismo me ensina que Deus, em Cristo, começou um novo tempo, e está reescrevendo uma nova história naqueles que se abrem radical e incondicionalmente para a sua obra. É claro que essa ação divina não será divulgada nos canais de comunicação da massa, afinal, a hospedaria continua sem ter espaço para Jesus. Contudo, meu coração, apesar do mundo mau, enche-se de ânimo para celebrar o Natal. Pois quando penso em Natal, minha mente imediatamente é arremetida a Jesus de Nazaré, e Jesus mostra como Deus é, e como o homem deve ser. Através de Jesus, percebo que Deus me ama profundamente, e não só a mim, mas o mundo todo, mesmo que este insista em lhe virar as costas. Em Jesus entendo que estou nas trilhas do mundo sim, trilhas sofridas e angustiantes, mas estou a caminho do Reino. Abrindo um parêntese: Essa frase daria um belo título para um sermão: pelas trilhas do mundo, a caminho do Reino; fecha parêntese. Por meio de Jesus, compreendo que o ser humano pode ser reinventado e a sua história reconstruída. Mas afirmo, reafirmo e afirmo de novo: só em Jesus.

O que celebrar no Natal? Celebre Jesus. Celebre o amor de Deus ao enviar Jesus ao mundo. Celebre a salvação. Celebre o consolo do Espírito Santo. Celebre os valores do Reino que são pregados e vivenciados por legítimos discípulos do Senhor. Celebre os atos de bondade em prol dos fracos e oprimidos dessa terra. Celebre a justiça que é feita, mesmo que raramente. Celebre o trabalho, celebre os amigos, celebre os familiares, celebre a igreja. Celebre a vida. Celebre a reinvenção da vida que se dá somente por Jesus. Celebre em nome de Jesus e para glória de Jesus. 

Deve ficar claro que a celebração verdadeira do Natal verdadeiro não é uma alienação em relação a todo sofrimento que acontece no mundo, pois não é fundamentada em egocentrismos, nem enganações. É apenas o aprendizado de acolher a bondade de Deus  no aqui e agora da vida, crendo que um dia Ele passou por aqui porque queria estar mais perto. E não só isso: queria transformar para sempre a história da humanidade. E transformou, e continuará transformando, mesmo que isso não passe na televisão. Natal é isso: Deus conosco e nós em Deus, com Deus e pra Deus. E aqui assim seja.
Pastor Laurencie

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