sexta-feira, 9 de julho de 2010

Sonhos de Pastor

O poeta português Fernando Pessoa disse que o ser humano é do tamanho dos seus sonhos. Se esta afirmação for verdadeira na sua completude, o que duvido, então estou bem, porque tenho muitos sonhos. Sonhos para mim, para minha família, para meus futuros filhos, que terei com minha esposa, se Deus assim o permitir, e eles terão cabelinhos enroladinhos assim como os meus, se Deus quiser. Sonhos para o meu ministério como pastor. Enfim, é preciso aceitar que os sonhos são parte importante da existência humana. Pensemos nessas coisas.

Segundo Benjamin Franklin, se um homem pudesse ter metade dos seus desejos realizados, teria mais aflições do que prazeres, e ele tem plena razão. Nem todo sonho é bom, mesmo porque, o ser humano é marcado pelo pecado e isso resulta em egocentrismo, individualimo, egoísmo, ganância e assim sendo, os próprios sonhos ficam contaminados.

Talvez você pense que os sonhos dos pastores são parecidos, tipo: fazer com que a igreja tenha tanta gente que saia pelo ladrão, ter um nome famoso e ter influencia na denominação, ser conhecido no bairro, na cidade, no país. Mas advirto que as coisas não são bem assim. Pela Palavra e pelo Espírito sabemos que há coisas mais importantes do que essas. É obvio que todo pastor gostaria de ver na igreja que pastoreia mais gente se achegando, mais crianças, mais adolescentes, mais jovens, mais famílias, mais batismos, mais cálices na hora da ceia, mais bancos ou cadeiras, mais gente ouvindo as preleções, mais músicos, mais ministérios em funcionamento, mais gente nos cultos de estudo bíblico e oração etc. Mas o ministério não deve se limitar a isso.

É verdade que nem sempre os sonhos se realizam do jeito que a gente quer. É preciso aceitar o fato que existe uma distância entre o sonho e a sua realização, e às vezes, a distância tende ao infinito. Além disso, infelizmente, nem sempre a gente sonha as coisas certas; pode até ser que os sonhos não tenham respaldo na Palavra. E isso significa desperdício de esforço e de tempo. Se assim for, é como se dispor a fazer uma viagem, sabendo que Deus não vai estar junto na jornada. Isso nos lembra a história de Israel em peregrinação para a terra prometida. Deus assim disse para Moisés: vai para uma terra que mana leite e mel, mas não irei no meio de ti. (Ex 33.3). Moises respondeu ao Senhor: “Se Tu mesmo não fores conosco, não nos faças subir daqui” (Ex 33.15). Moisés sabia muito bem que ir a qualquer lugar sem Deus, mesmo que seja a terra prometida, não valeria a pena. Sendo assim, o grande segredo é sonhar os sonhos que agradam a Deus, e nos quais Ele esteja incluído.

Se assim for, todo esforço valerá a pena, mesmo porque não importa só a realização dos sonhos, mas também toda a caminhada e processo até que eles se cumpram e concretizem. De que adianta realizar os sonhos em relação a comunidade chamada igreja, se muitos vão sendo deixados e vão sendo massacrados no meio do caminho? Faria Deus parte disso?

Eu como pastor sonho sim com o crescimento da igreja, sonho com o dia em que todos os cultos sempre tenham mais gente do que bancos vazios, sonho com o dia em que nenhum membro da comunidade agirá como visitante na sua própria igreja. Sonho com o dia que cada membro agirá como protagonista da sua própria espiritualidade e crescimento, vendo a si mesmo como ministro do Senhor. Mas além desses sonhos de pastor, eu sonho principalmente em caminhar dentro da vontade de Deus, usando uma linguagem antropopática, eu quero sonhar os sonhos de Deus, afim de que eu gaste meu esforço, meu trabalho, minha dedicação naquilo que alegra o coração de Deus.

Sendo assim, mesmo que os sonhos estejam distantes da realização, não haverá barreiras que poderão nos desanimar. O cantor popular disse que sonho que se sonha só, é só um sonho, mas sonho que se sonha junto, é realidade. Acho que ele tem razão. Sonhemos, então, juntos, unidos e com um mesmo sentimento bons e belos sonhos. Que Deus, Aquele que opera em nós o querer e o realizar, guie-nos, ajude-nos e nos sustente. Amém.

Pastor Laurencie

2 comentários:

  1. Lau,

    é verdade, Pessoa tinha razão, nós somos do tamanho dos nossos sonhos. Mas não dos sonhos realizados ou realizáveis, pois não há grandeza nas realizações. Digo: não há nas realizações a grandeza da medida da nossa medida. Para mim, um sonho só é sonho quando só pode ser sonho, e aí há a grandeza suficiente que pode nos medir. Assim, acompanhando seu texto, um homem que sonha com uma igreja cheia de gente, apenas por vê-la cheia (e isso é realizável), é, certamente, um homem muito menor do que um homem que sonha com um mundo mais justo, mais humano, mais bonito, mais Reino.

    Um forte abraço,
    Clademilson Paulino (Mimi).

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  2. Tens razão, meu amigo. Somos mais busca do que realização. Obrigado pela sabedoria de sempre.

    Abraços
    Lau

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